terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reintegração de posse...

Triste e lamentável o episódio de hoje da desocupação dos estudantes da USP pelo batalhão de choque! Mais uma vez a violência e a força repressora da ordem mostraram a sua cara! A pergunta que fica é: será que essa é a única maneira de o Estado resolver os seus problemas? "Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo" (C.D.A.).

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ocupa Rio - você já sabe do que se trata?

“Não somos mercadoria.” Sim, isso eu já sabia, mas não pude constatar ao certo o porquê dessa frase, escrita em garranchos num cartaz pregado na Praça da Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, ter me tomado naquele domingo à tarde com tanto fascínio, a ponto de eu estar aqui, agora, ecoando o que minha memória não quer esquecer.


Não foi um encantamento estético – uma estesia – nem tampouco uma provocação reflexiva em torno de algo novo para mim. Eu, acostumado a ir ao teatro e a ler poesias. Eu, acostumado, e talvez um tanto viciado, a contemplar as mais variadas pirotecnias estetizóides e os mais complexos pensamentos filosóficos.


Para ser preciso, devo dizer que as lágrimas vieram aos olhos antes mesmo de elaborar qualquer argumento. Aquilo me pegou antes de mim e sinceramente me emocionou (não seria a emoção manifesta uma explosão de sinceridade?).


Aquilo me emocionou. Sim, eu não sou uma mercadoria! Eu não posso ser visto pelas pessoas como um valor agregado à minha força de trabalho. Eu não posso estabelecer trocas baseadas prioritariamente em interesses econômicos. Definitivamente, não somos mercadoria.


Havia uma boa centena de pessoas na praça, e muitas delas escrevendo cartazes, alguns fazendo música, alguns dançando, e alguns grupos de trabalho em que eram divididos assuntos de interesse da comunidade instalada ali. Desde o dia 22 de outubro, jovens, boa parte estudantes, estão acampados. Barracas estão espalhadas. Uma mesa grande foi improvisada, com comida, frutas e biscoitos, para quem quiser se servir.


Mas contra o que eles estão protestando?, ouvi de uma senhorinha que ousara se aproximar. Vejo outro cartaz: “Acredite! Existe vida após o capitalismo”. E outro (citação de Che Guevara): “O verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor”. Mais outro: “O Capitalismo é a Crise”.


O nome do movimento é “Ocupa Rio”, e é difícil delinear com precisão do que se trata. Se por um lado, há um tônus político (“Belo Monte de Mentiras” era mais um cartaz; “FMI – Fome & Miséria Internacional”, mais um), por outro percebe-se a penetração do campo artístico e poético no debate: “Só uso arma para transformar em arte e só uso arte para transformar em arma.” E nada mais poético e político que um imenso cartaz com umas letras garranchadas dos versos emblemáticos de Castro Alves: “A praça é do povo como o céu é do condor.”




    A Praça da Cinelândia está ocupada desde 22 de outubro. Foto: Dikran Junior




A sobrevivência e a convivência na praça são administradas por grupos de trabalho, chamados de GT. Assim, há o GT da Alimentação, o GT da Comunicação, o GT Teórico e o GT Jurídico, entre outros. Uma fórmula de gestão de trabalho em que todos têm direito a opinar e cuja decisão é sancionada pelo voto em assembleia. Há assembleias diárias. Pude acompanhar o GT Jurídico informando às pessoas acerca de uma nova peça judicial autorizando a polícia a retirar as barracas da praça. Discutia-se as formas de resistência.


De inspiração pacificista, o movimento parece ter influência anarquista e na desobediência civil de Gandhi e Thoreau. Consta que Michael Hardt e Antonio Negri, autores de “Império”, sejam outros inspiradores.


Como não há microfones, os oradores falam e o público repete, numa técnica bastante utilizada por grandes líderes ao longo da história. O procedimento é astante eficiente (só tinha visto isso em filmes) e, ao requerer mais concentração entre quem fala e quem ouve, provoca uma espécie de transe, no ritmo que se estabelece entre a fala do orador e a repetição pelos demais. Há também alguns gestuais que são compartilhados e que facilitam a comunicação com as pequenas massas que se ajuntam.


Não poderia sair dali sem deixar registrado também o meu grito. Mas aonde conseguir cartazes, tinta, fita adesiva? Compro amanhã numa papelaria e aqui volto. Não. Sentia uma urgência do agora. Comecei a procurar pedaços de papel no chão, quando vi algumas cartolinas amontoadas numa barraca. Posso pegar uma?, indaguei. Não precisa pedir, um menino me respondeu. Aqui tudo é de todo mundo, ele completou.


Pronto! Sem me dar conta já estava sentado no chão, papel e pincel na mão, a desenhar os meus dizeres, um poema que me acompanha desde há alguns anos, de Waldo Motta: “MUNDO CÃO / OSSO DA ALEGRIA / ÚNICA RAÇÃO”. Esses versos sintetizam a minha ideia de felicidade como uma busca política e ao mesmo tempo uma busca poética, com propósito de fissurar as palavras, quebrá-las (no sentido artaudiano) como se fossem objetos concretos e forjar novos sentidos.


Posteriormente, ao chegar em casa, de frente ao computador, pesquisando sobre o assunto na internet, outra surpresa: o movimento é extremamente articulado na comunicação virtual.


A estratégia é relativamente simples – uso de blog (www.ocupario.org) e perfis e grupos de discussão em redes sociais como facebook e twitter. O diferencial está na rapidez e na transparência em que as informações são transmitidas, de forma clara, direta, poética, fragmentada. E mais, através do site http://www.livestream.com/occupy_rio_brazil é possível acompanhar ao vivo as assembleias e oficinas ministradas na praça. Ou seja, quem quiser entrar no “clima” do evento e saber o que está ocorrendo em “tempo real”, é só acessar.


A ideia parece ser essa mesmo: aproveitar o barateamento das tecnologias midiáticas e utilizá-las massificadamente na internet. A escolha de uma praça central também cumpre o objetivo de atrair o interesse dos transeuntes. Durante o dia, os manifestantes conversaram com os donos dos estabelecimentos comerciais ao redor e têm buscado sensibilizar inclusive os policiais.


Trata-se de uma ação interligada mundialmente chamada Global Revolution. São os mesmos manifestantes que lotaram as praças em Madrid, Nova Iorque, Chicago, Porto Rico, e outros. No Brasil, há ocupações no Rio de Janeiro e São Paulo.


O movimento se autointitula horizontal e apartidário. Visa a ocupação permanente da Cinelândia (na praça de Wall Street, eles estão lá há mais de um mês). Não há líder, ninguém fala pelo coletivo, cada um tem a sua própria reivindicação. 


“A casa caiu, levante sua barraca” é o slogan do evento. No perfil do twitter, outras informações fragmentadas: “Atividades e ideias rolando livremente na Cinelândia. Tá lindo! Venham passar a noite dessa segunda aqui com a gente”, diz uma mensagem. Outra: “é o 3º dia de acampamento! Momentos inesquecíveis até agora e que estamos fazendo acontecer! Cada indignado, uma conquista”. E mais outra: “Nova semana começando, e depois de tudo que vivemos nesses últimos dias, não deixe que o comodismo perpetue! Revolucione-se! Venha ocupar”.


Algumas mensagens impressionam pela singeleza, como: “vai almoçar no centro do Rio? Passe no acampamento e registre o seu apoio, faça um cartaz, converse com os acampados, sorria! Ocupe!”. São frases rápidas e sintéticas que buscam sensibilizar de imediato o espectador, despertá-lo para a indignação e provocar mobilização.


Vejamos a força de comunicação que a poética pode nos oferecer.


Aqui a poesia das frases curtas e grosseiras (numa espécie de estética ao avesso) funciona como transmissão de conhecimento. A poesia como ferramenta teórica de conhecimento é um assunto que ainda pretendo abordar mais pra frente.


Em meio a tantos fragmentos, encontrei no grupo de discussão do facebook um texto que apresenta com mais clareza e profundidade os desígnios desse projeto. É a “Carta da Humanidade”, lançada em Santiago, Chile, em 07 de outubro de 2011. A força argumentativa impressiona. Transcrevo abaixo alguns trechos:


"Nós, indivíduos da espécie humana, que, no exercício de nosso livre arbítrio, assinamos este documento: “A CARTA DA HUMANIDADE”, declaramos não mais reconhecer a autoridade de nenhuma instituição sobre nós e proclamamos a nossa soberania sobre nós mesmos. E, já, como soberanos de nós mesmos, realizamos o nosso primeiro ato de soberania: assumimos, entre nós, assinantes deste documento, o compromisso de apoiar-nos, mutuamente, a fim de cumprir com o nosso maior propósito existencial:  a felicidade, e convidamos a todos, que ainda não o assinaram, a juntar-se a nós nesta autêntica declaração de independência em relação a todo e qualquer mecanismo de coerção da liberdade humana, onde [sic] manifestamos nosso repúdio permanente à dúvida sobre nosso próprio potencial, ao ódio, ao individualismo, à escravidão,  à desigualdade, à não-fraternidade e à injustiça."

O manifesto informa que não tem intenção de oferecer uma resposta a todos os problemas da humanidade, nem tampouco dizer qual é a sua forma de organização perfeita. Entretanto, defende que “a resposta para todos os problemas da humanidade está dentro de nós mesmos”. É nesse aspecto que a articulação política ganha uma dimensão introspectiva, psicanalítica ou mesmo espiritual, uma vez que o fazer político, quando pautado por uma ética, buscaria o equilíbrio entre a ação externa e a reverberação interior.


O texto é enfático: “já nos consideramos livres de toda e qualquer tirania, pois não reconhecemos mais o seu poder”.


A certeza do sucesso desse empreendimento está no final utópico da carta:


"Este momento histórico será lembrado nos livros de história como A REVOLUÇÃO DOS 99%, A REVOLUÇÃO GLOBAL, A REVOLUÇÃO POPULAR, A REVOLUÇÃO CULTURAL DA DÉCADA DE 10, A QUEDA DO CAPITALISMO, QUEDA DOS ESTADOS NACIONAIS, PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DA HUMANIDADE, FUNDAÇÃO DA COMUNIDADE LIVRE DA HUMANIDADE OU QUALQUER OUTRO NOME LEGAL... O nome não importa! O que importa é que será lembrada como a revolução que, definitivamente, libertou a humanidade da tirania dos Estados Nacionais e das grandes corporações, revolução onde os protagonistas foram todos nós."


A transgressão ao poder econômico instituído é uma das marcas das ações políticas de vanguarda, e creio que o potencial transformador desse atual movimento está na aceitação da arte como ferramenta e na busca pela felicidade como norteadora do espírito humano. Perceba que a felicidade é alavancada como primeiro item na teia de proclamações da Carta da Humanidade. E não é por menos. Quem não quer ser feliz?...




quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fuzuê (Rodrigo Maranhão)

Fuzuê (Rodrigo Maranhão) - show com Marcelo Caldi e Rodrigo Maranhão, em Grenoble, França, julho de 2011.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Quer saber mais de Waldo Motta?

Quem cruzou com Waldo Motta nesta panaceia internética já sentiu qual é o traçado do mestre. É arte? É ciência? É religião? Que porra é essa? Saiba mais acerca desse misterioso poeta! Mas vá com calma! Que o buraco é mais embaixo! Pra começar, que tal um licor? Pois o prato de entrada mais apetitoso do momento é o livro "Transpaixão", coletânea relançada para o vestibular da Ufes. Desfrute! Depois me diga se é amargo ou doce... Livros comigo a R$ 20,00, fim de estoque. Aproveitem! fernandogasparini@yahoo.com.br.

Crítica do livro em http://www.overmundo.com.br/overblog/poesia-mistica-no-brasil-o-legado-de-waldo-motta.

Perfil do poeta em http://pt.wikipedia.org/wiki/Waldo_Motta.


Site oficial www.waldomotta.blogspot.com.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Memória é arma para não repetir a barbárie"

"O dever da memória não pode se confundir com a simples passividade da lembrança", alertou a presidente Dilma Roussef durante a cerimônia em memória das vítimas do holocausto. Parafraseando a "grande judia, grande filósofa" Hanna Arendt, completou: "a memória é uma arma humana para não repetir a barbárie".

Foi a primeira visita oficial a Porto Alegre. A nova presidente lembrou dos ciganos, dos eslavos, dos socialistas e daqueles que "tinham uma opção sexual que não era do gosto daqueles governantes de então".

O simbolismo desse discurso, no dia 27 de janeiro de 2001, prenuncia, a meu ver, uma seriedade e uma disposição do novo governo em enfiar o dedo nas feridas abertas da história recente. "A memória expressa a firme determinação de impedir que a intolerância e a injustiça se banalizem no caminho da humanidade".

Dilma atentou para a necessidade de "lembrar de todas as vítimas de todas as guerras injustas de todas as ditaduras que pelo mundo afora exterminaram, torturaram e tentaram calar milhares de seres humanos". Ouvir isso de quem já foi barbaramente torturada por uma ditadura militar...

Ela ainda chamou atenção para o caso nacional: "no Brasil, o dever da memória é algo indissociável do dever de festejar a vida". Alguém duvida que ela vai incomodar muito milico?!