terça-feira, 4 de dezembro de 2012

João Artigos e o Deus Merda



“Pão excrementício 
generosíssimo banquete 
de humildes vermes”
(Waldo Motta)



Muita merda ainda vai se cagar neste blog. Mas pra começar o meu depoimento, confesso que um raio brilhou no horizonte turvo da Baía de Guanabara no último domingo quando João Artigos falou de um certo “Deus Merda” em seu discurso escatológico no Aterro do Flamengo, justificando a ligação simbólica entre o palhaço e a merda, e esta com o adubo e o florescimento etc.

A etimologia mais quente dessa edição dos Anjos é: húmus = humor = homem = humanidade! Húmus é merda! Fomos feitos de barro, é claro que há um simbolismo que perpassa o barro e a merda.

E ainda tem mais essa: escatologia, a ciência do apocalipse, nada mais é que escato, derivado do grego éskhatos – extremo, excremento, sim, porque a merda é uma extremidade, uma excremidade, um resultado e uma origem do que somos.

Waldo Motta já sinaliza: “a merda representa a matéria-prima da criação do Universo (...) Creio que a ciência poderia descobrir a explicação e a solução de várias questões difíceis a respeito das origens do Universo e dos seres vivos, estudando essa área do corpo”, porque a merda, naturalmente, é constituinte do nosso corpo, ou melhor, da nossa organicidade, daquilo que nos contacta irremediavelmente ao cosmos!

Os Anjos do Picadeiro não poderiam ter escolhido um tema melhor para o ano do fim do mundo! A merda, e mais do que ela, o cu, a guilhotinha por onde a bosta prazerosamente escorre,  devem estar na pauta do dia de todos os artistas que desejam verdadeiramente repensar nossa condição humana, única e coletiva, e praticar uma nova humanidade, no sentido radical do termo!

E ainda tem muuuuito mais!