terça-feira, 4 de dezembro de 2012

João Artigos e o Deus Merda



“Pão excrementício 
generosíssimo banquete 
de humildes vermes”
(Waldo Motta)



Muita merda ainda vai se cagar neste blog. Mas pra começar o meu depoimento, confesso que um raio brilhou no horizonte turvo da Baía de Guanabara no último domingo quando João Artigos falou de um certo “Deus Merda” em seu discurso escatológico no Aterro do Flamengo, justificando a ligação simbólica entre o palhaço e a merda, e esta com o adubo e o florescimento etc.

A etimologia mais quente dessa edição dos Anjos é: húmus = humor = homem = humanidade! Húmus é merda! Fomos feitos de barro, é claro que há um simbolismo que perpassa o barro e a merda.

E ainda tem mais essa: escatologia, a ciência do apocalipse, nada mais é que escato, derivado do grego éskhatos – extremo, excremento, sim, porque a merda é uma extremidade, uma excremidade, um resultado e uma origem do que somos.

Waldo Motta já sinaliza: “a merda representa a matéria-prima da criação do Universo (...) Creio que a ciência poderia descobrir a explicação e a solução de várias questões difíceis a respeito das origens do Universo e dos seres vivos, estudando essa área do corpo”, porque a merda, naturalmente, é constituinte do nosso corpo, ou melhor, da nossa organicidade, daquilo que nos contacta irremediavelmente ao cosmos!

Os Anjos do Picadeiro não poderiam ter escolhido um tema melhor para o ano do fim do mundo! A merda, e mais do que ela, o cu, a guilhotinha por onde a bosta prazerosamente escorre,  devem estar na pauta do dia de todos os artistas que desejam verdadeiramente repensar nossa condição humana, única e coletiva, e praticar uma nova humanidade, no sentido radical do termo!

E ainda tem muuuuito mais!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia das Bruxas

postagem de Waldo Motta no facebook, 31/10/2012


HOJE É O MEU DIA

Dia de bruxas, sacis, caaporas, chupacabras, também é dia deste waldemônio & desta bicha papona que vos fala.

ASSIM DISSE A MONSTRA

Eu sou a monstra sagrada
eu sou a bicha papona
eu sou a jaguatirica
dos vales
eu sou a suçuarana
dos montes.
Eu sou o maracajá.

Sou demônio, anjo e deus
guardião de mil segredos
e do sonhado GRRRAAAALLLL.

Eu sou o terror das selvas,
eu sou o horror das trevas,
todos me amam e temem.

Por amor a Yanderu,
sirvo a Jurupari,
finjo-me de Anhangá,
Caipora e Saci.
Sou um anjo travesti.

Curinga, proteu
dez mil faces tenho.
Em todo e qualquer
lugar estou eu.

Eu sou o querubim do tabernáculo,
e o anjo da espada flamejante,
e o tigre de Blake e de Borges,
e a pantera de Dante, e o leopardo
de Eliot e Daniel,
e o dragão do Jardim das Hespérides
e a besta do Apocalipse
e a serpente do paraíso.

Sou o próprio Chupacabra.

Pantera rosa-shocking
jaguar azul-bebê
tigresa rosicler
sou cheia de gatimonhas;
mas ronrono de ternura
e me enrosco todinha
em torno do meu dono;
aquele que a todos ama
e de todos é o amo.

Não me venha com bravatas e esconjuros
e nem me torne presa, caça ou vítima
de sua estupidez civilizada.
Sou uma besta sagrada e protegida,
um animal santo e exijo
todo o respeito devido
à minha divina estirpe.

§§§

(poema do meu livro Terra Sem Mal, ainda inédito, puta que pariu, não sei até quando)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Shy Moon

Se bem que essa lua de julho não está nada tímida! Mas em se tratando de um ano regido pelo nosso prateado satélite, cabe aqui essa bela e criativa invocação lunar acaetanada: http://letras.mus.br/caetano-veloso/44773/.

domingo, 1 de julho de 2012

Encantamento - Waldo Motta

Ó Deus serpentecostal
que habitais os montes gêmeos,
e fizestes do meu cu
o trono do vosso reino,
santo, santo, santo espírito
que, em amor, nos forjais,
felai-me com vossas línguas,
atiçai-me o vosso fogo,
dai-me as graças do gozo
das delícias que guardais
no paraíso do corpo.


Essas e outras delícias estão guardadas em "Bundo e Outros Poemas", o Livro da Revelação, lançado em 1996 pela Editora da Unicamp. Mais sobre o autor em. www.waldomotta.blogspot.com.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sanfona de Inspiração Nordestina


Em clima de festa junina, show celebra o centenário de Luiz Gonzaga
e revela o virtuosismo da sanfona de inspiração nordestina

Em clima de festa junina, o centenário de nascimento do maior ícone da cultura popular brasileira será festejado no próximo dia 15 de junho, sexta-feira, às 18h30, na Sala Funarte Sidney Müller, Rio de Janeiro, no show do sanfoneiro, pianista e compositor Marcelo Caldi, com participação especial de Daniel Gonzaga, cantor, compositor e neto de Luiz Gonzaga.

Ao revirar o baú de Gonzagão, Marcelo se deparou com um tesouro quase intocado: as primeiras peças compostas pelo rei do baião nos anos 1940, um acervo de choros que revela o lado virtuosístico da sanfona nordestina. O jovem músico atesta: assim como Jacob compôs para bandolim, Pixinguinha para flauta e Ernesto Nazareth para piano, Gonzagão criou no choro uma linguagem ousada, criativa e inovadora para o instrumento de fole.

Embora desconhecidas do grande público e mesmo entre os próprios sanfoneiros, músicas como “Sanfonando”, “Catimbó” e “Araponga” soam familiares pelo sotaque sertanejo e combinam com os grandes sucessos do rei, também incluídas no repertório do show, como “Vida de Viajante”, “Qui nem Jiló” e outras.  

O espetáculo reverencia o lado virtuose e instrumental de dois dos grandes discípulos de Luiz Gonzaga, Sivuca (“Cada um torce como pode”) e Dominguinhos (“Princesinha no choro”). Requintado, moderno e sem perder de vista as tradições da música brasileira, Marcelo Caldi investe em composições próprias como “Baião da Bebel”, homenagem à esposa, e “Forró da Olívia”, homenagem à sobrinha, além da já conhecida “Lembrei do Ceará”, todas influenciadas no cancioneiro gonzagueano. 

Vencedor do Prêmio Funarte Centenário de Luiz Gonzaga, o show deve excursionar por Lisboa nos próximos meses. Há apresentações marcadas no SESI Rio em julho e em Furnas Rio em agosto. Presença de Fábio Luna na bateria, percussão, flauta e voz, e Nando Duarte, no violão de sete cordas.

Nova geração

Com 31 anos de idade e 16 de carreira, Marcelo Caldi se insere na linha sucessória dos grandes sanfoneiros brasileiros de inspiração nordestina, iniciada por Luiz Gonzaga nos anos 1940 e consolidada décadas depois por sanfoneiros como Dominguinhos, Sivuca, Oswaldinho, e muitos outros.

Carioca de nascimento e pianista de formação clássica, o músico encontrou na sanfona o portal para a cultura popular brasileira, tornando-se pesquisador e apaixonado pela obra gonzagueana. Até o fim deste ano Marcelo lança um livro inédito de partituras dos choros de Luiz Gonzaga e atualmente está criando arranjos com temas nordestinos para orquestra sinfônica. 

Informações: Show Marcelo Caldi Trio – Homenagem ao Centenário de Gonzagão. Participação Especial de Daniel Gonzaga. Dia 15 de junho às 18h30, na Sala Funarte Sidney Müller, localizada no Palácio Capanema, Rua da Imprensa, 16 - térreo, Centro, Rio de Janeiro (RJ). Ingressos: R$ 10,00 
(inteira) e R$ 5,00 (meia). Lotação: 225 lugares. Informações: (21) 2279-8104.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Sou sanfoneiro graças a Luiz Gonzaga"



É de sanfoneiro para sanfoneiro – no peito onde bate o fole – a homenagem que Marcelo Caldi faz a Luiz Gonzaga, no ano em que se comemora o centenário do nascimento do rei do baião. Caldi faz um passeio pelo cancioneiro gonzagueano e realça matizes até então insuspeitos. O show está marcado para o dia 10 de fevereiro, sexta-feira, às 18h30, na Sala Funarte Sidney Müller.

Além de sucessos como “Asa Branca” e “Forró no Escuro”, o jovem compositor e instrumentista apresenta um repertório de choros compostos e gravados por Gonzagão na década de 1940, um material ainda pouco conhecido mas que revela a proximidade e o diálogo entre os gêneros carioca e nordestino. “Dá pra sentir o baião despontando nesses choros”, revela Marcelo.

Em homenagem à sanfona brasileira de inspiração nordestina, o espetáculo envereda pelo dançante forró instrumental com dois grandes discípulos de Gonzagão: Dominguinhos, em “Nilopolitano”, e Sivuca, em “Cabaceira Mon Amour”.

Diferencial

O diferencial desse show, estreado em 2011 no Teatro SESI Itaperuna, está na riqueza e diversidade dos arranjos musicais feitos por Marcelo Caldi, além da potência de dois grandes músicos, Fabiano Salek (percussão) e Nando Duarte (violão de 7). De forma compacta mas não minimalista, o trio revela uma sonoridade tipicamente popular e requintada, tendo a sanfona como carro-chefe.

Caldi e Nando já se reuniram para gravação do disco “Forró e Choro” (com Fábio Luna, Delira, 2008), indicado ao Prêmio de Música Brasileira na categoria instrumental.

“Sou sanfoneiro graças a Luiz Gonzaga”, resume Marcelo. “Creio que é assim com todo sanfoneiro brasileiro. O encontro com o mestre me fez mergulhar no imenso manancial da música brasileira com sotaque nordestino, o que para mim foi uma descoberta, já que venho de uma família ligada à música clássica”. O artista reúne dessa forma uma formação erudita e uma aprendizagem autodidata no instrumento ícone da cultura popular.

Informações – data: 10/02, sexta-feira; horário: 18h30; endereço: Rua da Imprensa, 16, Centro, Rio de Janeiro (acesso Metrô Cinelândia, saída Rua Pedro Lessa); ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia), disponíveis a partir das 15h na bilheteria do local; lotação: 225 lugares; informações: (21) 2279-8087 e www.marcelocaldi.com.