A máxima “penso, logo existo” remonta ao século XVII, na Europa, e inaugura o racionalismo no pensamento ocidental. Seu autor, Descartes, é considerado o pai da filosofia moderna, na qual a razão analítica se sobrepõe aos sentimentos e à subjetividade na busca pelo conhecimento.
Em nossa cultura, o “penso, logo existo” criou um vínculo quase que inquestionável entre o pensamento e a existência, a ponto de gerar uma identidade completa entre o nosso ser com aquilo que se é pensado.
Exemplo trivial: penso em algo triste, me identifico com aquele pensamento e passo a me sentir triste, e viro praticamente a própria tristeza. Mas daí passa, e me vem um pensamento de algo alegre, e aí me identifico com a alegria, sinto a alegria, vivo a alegria, sou a alegria. Mais adiante, penso em algo que me dá medo, e assim vai...
Ocorre que nossa mente, a depositária de todos os pensamentos, digamos assim, está sempre pensando em algo, e pulando de galho em galho. Já até foi contabilizado quantos pensamentos um ser humano pode ter em um dia. Cientistas da Queen’s University, Canadá, publicaram um estudo na revista científica “Nature Communications” em 2020, elencando cerca de 6,2 mil pensamentos diários. Mas pode-se encontrar na internet gente falando em até 70 mil!
Você pode observar no seu dia-a-dia os pensamentos que te deixam melancólico ou pessimista ou os pensamentos que lhe despertam esperança e motivação. Claro, cada um de nós tem certas tendências de caminhar por esta ou aquela trilha do pensar. Mas, observe...
Na medida em que observamos o fluxo interminável de pensamentos, vamos, aos poucos, descontruindo essa cruel identidade com tudo o que se passa pela nossa cabeça, gerando sofrimento e tormenta contínuos (quanto mais nos emocionamos com os pensamentos, maior a identidade com eles).
Observe... você não é, apenas, o que você pensa; você é, também, o ser que observa os seus pensamentos. Reiterando: você não é a sua mente, você é o ser que observa a sua mente.
E, na medida em que observamos, vamos nos distanciando do pensar e nos identificando com este ser (a consciência) que observa.
Mas... quem é este ser que observa? Quem está por trás dessa máquina misteriosa de pensamentos? Quem sou eu, afinal?
É uma boa pergunta, da qual costumamos fugir. Aventure-se a questionar: quem sou eu?, e observe o sentimento que lhe desperta logo após a indagação. Me conta!
Indícios de uma possível resposta: se você não é a mente, se você não é este ser que pensa, então, você é algo que está além da linguagem. Pois a linguagem é o atributo típico da mente, é a sua forma plena de expressão, resultado de suas vivências pessoais, na relação com o contexto histórico, social, político, cultural, psíquico, familiar, territorial, linguístico, genético etc. etc. em que está inserido. Mas, se você não é nada disso, então, quem é você?
Numa grosseira síntese: você é algo que a linguagem humana, tal como a concebemos, não pode expressar.
É muito provável que a resposta a essa pergunta possa ser vislumbrada, somente, no silêncio.
O silêncio é a expressão mais verdadeira de sua consciência.
Medite.
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