terça-feira, 15 de janeiro de 2019

CONDOMÍNIO FECHADO

As borboletas são livres, ao menos...
vertem pólen sem perceber muros

Hibiscos rondam casas, aparados...
Impedidos pela poda dos ramos, se vingam:
dão mais flores.

Hortênsias caminham estradas,
lunares, absconsas...

pontinha de sol, repentina,
ilumina vácuos entre a
floresta ferida

Rápido invadem os quintais as maritacas
a comer e espalhar sementes (sem perigo algum)
cães nem tempo têm de latir, um susto aquele vôo,

Vá até o riacho e de lá não ultrapasse, é do vizinho.
Medrosos e tolos, tais quais seus donos
– estúpidos animais,
os cães avisam o território.

Quem não tem porém respeito algum
são as marias-sem-vergonha,
nos cantos e em qualquer lugar mal planejado, lá estão elas:
desordeiras, vulgares, coloridas.
dos lotes – vazio – então, apoderam-se
na certeza pequena de um mesmo chão.

... mas esse frio, esse frio que me faz respirar profundo
... esse olhar solto pelos detalhes da sombra (a noite adentra a túmida névoa)
... esse húmus dos seres miúdos

E esse verso que brota?

É da chuva longínqua, que cai
sobre todos os telhados do condomínio fechado
é gota sem dono, apanhada em sonho
mimado por anjos.

Cidade das Pirâmides, Nova Friburgo, 16 de abril de 2006.

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