segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

I

Subia a rua larga do morro da casa de meus pais, próxima à maçonaria...

Um menino de pele alva e barbudo, descabelado em tons castanho-escuros, estava sem camisa e com a cara pintada de branco; vinha pela rua cantando, em espírito de carnaval, ou de bumba-meu-boi. Cantava uma música pujante, e eu comecei a cantar junto. Não era uma marcha, era um refrão...

Atravessamos um de frente ao outro; nos olhamos; ele me convidou para dançar. Foi quando me dei conta de que eu trajava apenas uma toalha branca de banho.

Dançamos. Em poucos segundos, pulsamos o suingue, a graça e a leveza de uma vida inteira, até então. Ficamos abraçados e levemente suados.

Eu fazia um giro com o corpo e, no ritmo, abria a toalha, botando o meu pau pra fora, em plena rua, que delícia! Era carnaval, era brincadeira... Repentinamente, ele começou a fazer o mesmo (só agora percebi que também estava de toalha branca), exibindo um pau enorme.

II

Continuei a subir o morro, passei pela maçonaria, onde cruzei com uma menina de uns 5 a 6 anos chorando muito, descabelada, e com um lenço branco na mão, catarrenta. Vários meninos, que acabavam de sair da escola, comentavam entre si: “você viu isso?”, “caramba, que esquisito”, “nunca vi isso antes”. Perguntei-me se estavam zombando da menina chorosa ou dos meus seios enormes, à mostra.

Caminhei um pouco mais, até entrar na mansão verde, onde encontrei Júnior, o filho de Oswaldo, dando brinquedos para crianças de rua. Que brinquedos são esses? Só chegando mais perto pude ver que Júnior se parecia a um mago, e distribuía pequenos punhados de peças de quebra-cabeça para cada criança.

Como é que vão brincar disso, se cada um vai ficar com um punhado para si, como será possível essa montagem? Que imagem seria a desse quebra-cabeça? O verso das peças era vermelho.

“E quando é que vai começar o jogo?”, indaguei a Júnior, que moveu os olhos em minha direção, e disse em pensamento: “já começou e vai durar a vida inteira”.

Nenhum comentário: