quarta-feira, 15 de julho de 2009

Guitarra e Sanfona - Um Encontro Pulsante

Marcelo Caldi (sanfona) e Guga Mendonça (guitarra). Foto: Sérgio Bondioni
Profundamente ligada ao ambiente sertanejo das várias regiões do Brasil, a sanfona tornou-se um ícone da chamada cultura popular brasileira, e ninguém pode imaginar um forró, um xote ou um baião sem a nobre presença do instrumento, acompanhado pelos agudos do triângulo e os graves da zabumba. Foi com essa formação que o rei do baião, Luiz Gonzaga, se apresentou pela primeira vez com sucesso na Rádio Nacional, Rio de Janeiro, nos idos dos anos 40.

De lá pra cá, a sanfona se metamorfoseou, seguindo o fluxo das dinâmicas históricas e culturais das décadas consecutivas. Foi, inclusive, colocada no ostracismo e identificada com um país agrário e oligarca, contraponto ao país moderno, urbano e industrializado que se pretendia construir, no fim dos anos 50. Ressuscitada pela Tropicália, que reposicionou Gonzagão num novo cenário, a sanfona começa a dialogar mais abertamente com outros estilos musicais.
Nesse contexto, destaca-se a importância de Sivuca para a ampliação dos caminhos da sanfona. De acordo com Ricardo Cravo Albin, "o músico é responsável por elevar a sanfona a uma categoria universal, inserindo-a no contexto do jazz e da música sinfônica".

Seguindo os passos do mestre, o Quinteto Sivuca, formado por músicos que acompanharam o artista nos últimos anos, surge no cenário da música instrumental com a tarefa de promover uma união dentro da enorme diversidade de sons que marcam a brasilidade. A marca mais salutar do repertório da banda é exatamente essa: a diversidade - forró, baião, frevo, samba, choro, balada, jazz e até inspirações sinfônicas. E por que não uma pitada de rock n' roll?!
Guga Mendonça. Foto: Sérgio Bondioni
Ao romper com várias tradições e revelar de forma veemente e inequívoca um traço marcante da música no século XX - a pulsação, que muitas vezes abandona o universo tonal para se banhar em grunhidos modais - o rock n' roll encontrou na guitarra elétrica um de seus maiores símbolos.
A geração de Sivuca, o albino paraibano que nasceu em 1930, talvez tivesse alguma dificuldade em assimilar os novos sons, mas, para quem nasceu na década de 70 em diante, a distorção da guitarra soa familiar, a ponto de ter sido incorporada à música popular brasileira em suas variadas facetas. Curiosamente, é a mesma Tropicália que começa a distorcer os timbres do instrumento, e não sem alguma resistência de outros setores da música, que chegaram inclusive a promover passeatas contra a guitarra elétrica.

Se o forró e o rock, à primeira vista, soam como gêneros distintos, devido às suas origem e evolução, percebemos em ambos o traço comum da pulsação: música feita para dançar, empolgar, extravasar. Não é à toa que o maior roqueiro do Brasil, Raul Seixas, é nordestino e bebeu nas águas de Elvis e Gonzaga para produzir sua obra.

Poderá o timbre da sanfona harmonizar-se com as distorções pulsantes da guitarra?! Se uma imagem vale mais do que muitas palavras, convido o leitor a assistir ao vídeo abaixo e tirar suas próprias conclusões.


Filmagem e Edição: Maurício Leal
É o show do Quinteto Sivuca, realizado recentemente no auditório do BNDES, Rio de Janeiro. A música é o forró Nilopolitano, homenagem de Dominguinhos à cidade de Nilópolis, onde morou por vários anos. Trata-se de uma peça virtuosística, de difícil execução, para deixar muito sanfoneiro de cabelo em pé, dada à forte pulsação e às melodias intrincadas. Destaque para os talentos do sanfoneiro Marcelo Caldi e do guitarrista Guga Mendonça, rompendo fronteiras para alcançar os mais diversos públicos e, ao modo de Sivuca, revelar a universalidade da música.
O Quinteto Sivuca é formado também pelo legendário baixista Jorjão Carvalho, Cacá Colon certeiro e preciso na bateria, e a personalidade marcante de Paula Faour nos teclados. Os três são um assunto à parte. Se alguém imagina que eles estão na cozinha, já habitam a sala de estar há muito tempo.

Quinteto Sivuca. Foto: Sérgio Bondioni

Nenhum comentário: