sábado, 26 de janeiro de 2019

BELZEBU

Era eu e o belzebu.

Mas não era lua cheia nem alto da noite. Era no clarão quente do dia, na beira da estrada seca, de pó seco, de pasto seco. Empoeirados nos pecados do passado, eu e ele, agora, ali, estávamos, de novo, frente a frente!

Mirar ou não mirar em seus olhos? Parar? Voltar do caminho? Fugir? Não! Desta vez, não! Já não bastassem os pesadelos de outrora, de quando, na mesma estrada, encarara um boi negro. Desta vez era real, e teria de seguir em frente, a custo de minha própria vida.

Assim eu fiz. Caminhei. Lentamente. Ficamos num mesmo raio de contato, a uns poucos metros de distância.

Ele: enorme, boi, chifrudo, instinto, animal. Teria fugido, não sei como, da cerca de proteção, onde dezenas de outros bois e vacas nos miravam – a nossa humilde plateia.

De repente, desengonçado e rápido, ele se mexe, corre uns metros à frente. “Acalme-se, amigo, estamos juntos nessa, somos parte dessa história”, disse em silêncio ao boi, meu irmão. Prossegui andando devagar, e, novamente, ele saiu correndo na frente, na poeirada, assustado. Assim fez umas duas ou três vezes.

Até que passei ao lado dele, a poucos metros, olhando reto, para o horizonte dos morros secos, já andando um pouco mais rápido, decidido. Desta vez, ganhei o jogo. Era preciso, contudo, voltar pela mesma estrada, até alcançar o destino.

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