No final de cada aula, Giovedro dizia alguma coisa do tipo: “é preciso ler isso, estudar aquilo, observar os pontos de vista deste e daqueles...” De paixão enciclopédica, o professor expunha as várias vertentes das teorias ao longo da história, de um modo equitativo, digamos, sem demonstrar nenhuma predileção por nenhuma delas, nenhum autor específico, assim era para ser... assim era o espírito científico, teórico, imparcial... a verdade não é a conquista de um amor... ela é resultado de um laboratório asséptico... ora bolas, é preciso óculos, luneta, estudos e mais estudos e aspas alheias.
Fernando precisava daquela bolsa de estudos, pois era o caminho mais rápido de amenizar a situação financeira, mas era... deprimente a ideia de que poderia morrer citando nomes de autores e suas respectivas correntes de pensamento, sem se apegar a nenhuma delas, sem o coração bater de rompante por uma metáfora, por um verso... convertendo-se àquela diplomacia de modos higienizados de Giovedro. A renegação aos sentimentos mais fundos, aos instintos e suas vazões... tudo isso terminava em Adornos e Horkheimers... Fernando percebia um pouco tudo isso, e, sem compreender muito bem, odiava...
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