domingo, 6 de janeiro de 2019

Mestre e discípulo

Mestre e discípulo andavam
naquela noite sem luar,
nas mãos de cada um queimavam
chamas de vela pra guiar.

O mestre ia logo à frente,
um logo atrás juntinho ao outro,
atados como uma corrente,
seguiam em busca de um tesouro.

Há muito tempo caminhavam...
não se deu conta o discípulo
numa caverna escura estavam
talvez bem perto de um abismo.

Pela primeira vez, parou.
Daquela cova o ar denso,
por um instante, respirou,
correndo o sangue mais intenso.

Impressionou-se com o tanto
já caminhado até então,
quando uma dúvida e um pranto
lhe acendeu o coração.

Não percebera a estreita via
nem o buraco onde havia
metido toda a sua vida,
daqui pra frente, o que seria?

Tocou nas sendas da parede
sentindo os ângulos da rocha,
pra apaziguar tamanha sede,
o que fazer eu vou agora?

Não poderia de si mesmo
esconder tal indagação,
criar na pedra o próprio texto
tinha de ser sua missão.

O mestre então já ia longe
e não podia o esperar.
Já ao discípulo distante
reaprender a caminhar

tornou-se o grande desafio.
Pois a si mesmo encontrar
é o que vale o caminho
do obscuro atravessar.

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