sábado, 12 de janeiro de 2019

Os anos na faculdade de engenharia naval lhe acumularam um extraordinário conhecimento na construção de embarcações, grandes e pequenas, para rios e mares. No entanto, os cálculos e estruturas não podiam conceber uma canoa como esta, sem proa e sem popa, de extremidades idênticas e retangulares.

Não pode a boca ser a mesma coisa que um ânus, nem a ponta da flecha ser como as suas rêmiges, nem o início ser como o fim, pensava consigo... Tanto estudo acumulado não lhe trouxera a experiência necessária para navegar uma canoa tão simples, de simetria perfeita, a única ancorada no cais abandonado da ilha onde, misteriosamente, ele acordou.

Quantos anos perdidos em contas e números e equações... Não havia tempo para choro. Ou pegava aquela canoa e remava até o longínquo, ou se perderia para sempre ali, ilhado, diante do dilema.

Rodeado de verde em ambas as margens, o rio parecia calmo, mas não se sabe o que viria depois da curva.

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