Quantas vezes uma criança ouve: “o que você quer ser quando crescer?”.
Ao longo da infância e adolescência também é comum: “você precisa estudar, você precisa trabalhar, para ser alguém na vida”. De todos os lados, pais, amigos, escolas, mídias..., somos formatados a ter de “ser alguém na vida”.
Assim nascem as ilusões e os desejos. Pode ser: tornar-se um famoso artista, ou um grande empresário, ou um talentoso médico, ou um rico engenheiro... E, na sequência, vem a frustração. Pois poucos de nós conseguimos alcançar tão altos objetivos, e o custo de tal mérito é a própria existência, empregada em horas de estudo, trabalho, dedicação, para “ser alguém na vida”.
Alcançada a meta, o que se faz? Anseia-se mais. Não há limites para ambições.
E expectativas contrariadas geram... sofrimento. O mecanismo psíquico é de simples compreensão: quanto mais desejos se alimentar, mais frustrações serão geradas.
O assunto é amplamente abordado entre os buscadores nas sendas orientais. Deveríamos refletir no quanto a meta de “ser alguém na vida” nos impede de sermos autênticos, isto é: sermos nós mesmos, em nossas contradições, fragilidades e estranhezas.
Porque sermos quem somos é, de fato, algo único e potente, um tanto quanto diferente e esquisito aos padrões sociais, que moldam regras em que quase ninguém se adequa (no pensamento de Osho: quanto maior o moralismo, maior a hipocrisia, e qualquer semelhança com a biografia dos moralistas de plantão não terá sido mera coincidência).
“Jamais serás quem tu não és”, lembra o messiê Márcio Libar, em seu curso “A nobre arte do palhaço”.
E ser quem se é envolve você se despir de tudo aquilo que você não é, ou seja, de tudo aquilo que desejaram que você fosse, e que você mesmo desejou, influenciado por tantos desejos de outrem.
“Quanto quis tirar a máscara, / estava pegada à cara. / Quando a tirei e me vi ao espelho, / Já tinha envelhecido”, escreve Fernando Pessoa em seu célebre “Tabacaria”.
Sim, a fim de nos relacionar e de sobreviver nesse mundo cão, construímos de tal forma uma poderosa autoimagem enganosa de nós mesmos. Por detrás dessa máscara, o que restou? O vazio e a pergunta, chamada pelos místicos de “A Grande Interrogação”:
Quem sou eu?
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