domingo, 11 de março de 2018

QUAL A PAZ?

Quem de nós, do lado de cá, se aventurou, mesmo que pouco, nos mares orientais da meditação sabe: não é fácil. O simples ato de cruzar as pernas, ajustar a coluna, respirar fundo e... concentrar-se. Um vulcão de pensamentos nos atravessa, de memórias da infância a aborrecimentos cotidianos, imaginações, desejos, frustrações... numa palavra: conflito. Ao dedicar alguns minutos por dia a não fazer nada e naturalmente deixar fluir os pensamentos, como um observador de mim mesmo, percebo: sou um ser em conflito. Verdadeiras batalhas entre deuses e demônios são travadas no palco de minha consciência, dizendo o que eu devo ou não fazer, excitando-me prazeres, exibindo os meus tormentos.

Acordo desse sonho, e vou para o trabalho, e constato o conflito nas pessoas, nos vizinhos, nos casais, nas instituições, no organismo social. Estamos em desespero clamando por paz! O governo dá as suas respostas: tanques, militares, armas, perseguição... Me aventuro a elucubrar: no dia em que os soldados prenderem todos os bandidos, traficantes, armas ilegais e drogas, teremos alcançado enfim a paz social? Qual é o ponto final da saga do bem contra o mal? Qual a relação entre os meus conflitos internos e os conflitos sociais? Um jogo de espelhos? Qual paz eu busco? De qual paz eu necessito?

*
* *

Laércio Fonseca nos conta, em uma de suas palestras, de uma ricaça da elite paulistana que gastou mundos e fundos para ter um encontro pessoal com Sai Baba na Índia. O mestre, ao estar diante da senhora, lhe indagou: “o que você veio fazer aqui?” A mulher teria respondido: “eu quero paz!” O sábio retrucou: “é simples: primeiro você tira o ‘eu’, depois você tira o ‘quero’, e daí você fica com a paz”.

Nenhum comentário: