quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Marcelo Caldi faz sinfonia em homenagem a Braguinha


Compositor homenageia Braguinha em arranjo para Orquestra Petrobras Sinfônica


O compositor Marcelo Caldi apresenta um arranjo inédito para a Orquestra Petrobras Sinfônica, numa homenagem a Braguinha, no próximo sábado (18/12), às 18h, nos Arcos da Lapa – entrada franca. O artista combinou violinos, clarinetes e trompetes para rememorar a era de ouro do carnaval carioca, entre as décadas de 30 a 40, quando Braguinha (ou João de Barro) tornou-se um dos compositores mais famosos do Brasil.

No arranjo, Marcelo reuniu “Cantores do Rádio” e “Yes Nós Temos Bananas”. Segundo ele, “as letras do Braguinha já dizem todos os caminhos que se deve seguir. Em ‘Cantores do Rádio’, busquei ser grandioso, como uma marchinha tradicional e tão conhecida deve ser. Em ‘Yes Nós Temos Bananas’, busquei uma sonoridade mais americana, do bebop e do jazz, no estilo das grandes orquestras americanas, mas sem perder a malícia e a brasilidade”.


Concurso de Marchinhas


A homenagem sinfônica a Braguinha também reuniu outros compositores como Cristovão Bastos, Maurício Carrilho, Bia Paes Leme e Alexandre Caldi. A apresentação da Orquestra Petrobras faz parte da programação do “I Baile de Carnaval Sinfônico dos Arcos da Lapa”, uma celebração ao Concurso Nacional de Marchinhas da Fundição Progresso.

O encontro começa às 16h30, em frente à Fundição Progresso, com cortejo do Bloco Céu na Terra até o palco montado sob os Arcos da Lapa. O encerramento é com o Cordão do Boitatá, às 20h, nesse mesmo local.

Quanto ao fato de uma orquestra executar marchinhas populares, Marcelo Caldi é enfático: “tem tudo a ver! Ouça as primeiras gravações das marchinhas mais conhecidas. A orquestra é tão presente quanto a própria música, a letra ou o intérprete. O que é bom mesmo nunca morre, e a prova disso é essa bela homenagem”.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mercedes Sosa & Gonzalo Rei - Flor de ir Embora

Conheci essa música há uns dois ou três anos, através de Maria Bethânia, em disco do início da década de 90, em que a cantora comemorava 25 anos de carreira. A letra - simples, verdadeira, essencial - é uma lição de vida, assinada por Fátima Guedes (dela nunca ouvi a versão original, que dizem ser linda também).

Agora, pra minha surpresa, está aí, na voz de Mercedes Sosa, junto com Gonzalo Rei, "Flor de ir Embora". O título já um enlace poético...rsrsrs... adoro músicas que soam melancólicas mas no fundo são profundamente alegres, sendo assim também tristes... enfim... espero que gostem!!!

Beijos,

Fernando Gasparini.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

Qual é a música da Parada, gay?


Quem foi que disse que veado só gosta de dance music?!

Por que na Parada Gay só toca dance em TODOS os trios elétricos?!

Estamos no Brasil, no Rio de Janeiro, em Copacabana, e não ouço um samba, uma marcha, um choro, nenhuma música brasileira de espécie alguma. Só porque são as boates que patrocinam os trios elétricos eu sou obrigado a ouvir bate-estaca?! E se eu não gostar de bate-estaca?!

Eu tenho o direito de ser gay e de gostar de samba!

Quero saber por que as paradas gays não tocam samba nem marchinhas! Esse estigma de que veado gosta de dance music acaba por gerar uma segregação musical, que reflete a segregação social no Brasil, criando o estereótipo de que heterossexuais gostam de samba e homossexuais gostam de dance. Nada mais falacioso.

O dia em que chegarmos na Parada Gay de Copacabana e as bibas todas dançarem juntas "mamãe eu quero mamar", junto com os amantes do samba e de todos os estilos e gêneros musicais, aí sim teremos gerado uma agregação social entre os vários tipos de pessoas e não simplesmente transportado a boate Le Boy para o céu aberto.

Em defesa da música, em defesa da música brasileira, em defesa da integração social entre "heteros" e "homos", cantando juntos uma canção que todos saibamos cantar.

Registro aqui o meu protesto!

Saudações orgulhosas,

Fernando Gasparini.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Irmãos Caldi revelam veia autoral


Por reunir influências de ritmos da Argentina e do Brasil, temperados por uma leitura requintada, herança da formação erudita dos pais, os irmãos Alexandre e Marcelo Caldi compõem uma paisagem singular no cenário musical brasileiro. A dupla mostra o seu trabalho autoral às terças-feiras de novembro (02, 09, 16, 23 e 30), às 21h30, em temporada no Lapinha (Avenida Mem de Sá, 82 - sobrado, Lapa), num show que é resultado de quase dez anos de trabalho em comum.

Os saxofones e as flautas de Alexandre em junção com o piano e a sanfona de Marcelo fazem um passeio pelos sertões brasileiros de forrós e baiões, pelos pampas portenhos de milongas e tangos e pela urbanidade carioca de sambas e choros. Os timbres e estilos diversos se reúnem numa sonoridade única e familiar. Esse é o clima de músicas como “Lembrei do Ceará” e "Atravessado”, de Marcelo, e “Pedrinhas no Mar” e “Chegando Cedo”, de Alexandre. Músicas, vídeos e fotografias podem ser acessados gratuitamente em www.myspace.com/marcelocaldi e www.myspace.com/alexandrecaldi.
Inéditas

Algumas peças serão rememoradas do primeiro CD da dupla, “Intrometidos” (Independente, 2001), enquanto outras serão inéditas. “É no palco onde a gente quer experimentar a receptividade de nossas canções”, resume Marcelo, sem esconder o desafio que é apresentar ao público a face autoral. Por outro lado, os irmãos revivem, em novos arranjos, sucessos como “Canto de Xangô” (Baden Powell, Vinícius de Moraes), “Um Tom para Jobim” (Sivuca, Oswaldinho) e “Choro pro Zé” (Guinga).
A dupla já lotou outras casas da Lapa, como o Semente e o Democráticos, com participações especiais e improvisos de amigos como Elza Soares, Sérgio Ricardo, Nilze Carvalho e Maria Teresa Madeira. Para o Lapinha, o diferencial será uma sonoridade mais crua, sem a pressão sonora de uma banda, dando um tom mais camerístico e de intimidade, realçando as sutilezas de cada composição.
Convidados
No próximo show, em 02/11, a dupla recebe a cantora japonesa Keiko Omata, que interpretará clássicos da música popular brasileira e do jazz. Haverá participação especial do baterista Márcio Bahia. Os demais convidados são: 09/11 – Regional Carioca; 16/11 – Floriano Santos; 23/11 – Lúcia Helena; e 30/11 – Flávia Bittencourt.

Desde que assumiu, em maio deste ano, a curadoria do Lapinha às terças-feiras, Marcelo Caldi transformou o lugar em referência para os fãs de música no Rio de Janeiro, abrindo espaço para jovens compositores e grupos experimentais. Em setembro, houve casa cheia nas apresentações do Festival de Música Livre, um sucesso que se repetiu em outubro com o Festival de Grupos Vocais.


Serviço:
Irmãos Caldi convidam Keiko Omata
Participação especial: Márcio Bahia
Próxima terça-feira, 02/11, às 21h30
Abertura da Casa às 20h
Couvert: R$ 12,00
Avenida Mem de Sá, 82 - sobrado, Lapa
Informações e reservas:
www.lapinha-rio.com.br e (21) 2507-3435

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

"Todo o Sentimento" - com Verônica Sabino e Marcelo Caldi

A cantora Verônica Sabino postou recentemente em seu canal do youtube uma belíssima interpretação de "Todo o Sentimento" (Chico Buarque e Cristóvão Bastos) acompanhada pelo piano de Marcelo Caldi. A versão é do DVD "Que Nega é Essa".

A cantora afirma que muitas pessoas têm comentado com ela acerca dessa música: "tanto tempo depois a canção continua emocionando e rendendo elogios". O revival tem origem na reprise da novela Vale Tudo (TV Globo, 1988), no canal pago Viva, às 0h45 (!).



Mesmo em reprise, mesmo em canal pago, mesmo em horário ingrato, o folhetim chamou atenção da audiência e rendeu até algumas fotos de Glória Pires, a vilã Maria de Fátima, nos jornais. O fato é que personagens como a alcóolatra Heleinha Roitman (Renata Sorrah) e sua irmã Odete Roitiman (Beatriz Segall) acabaram ficando na memória de muita gente.

A trilha sonora também é de primeira! Balzaquianos em geral devem se lembrar do tema de apresentação, "Brasil", de Cazuza, com Gal Costa rascante na voz, embalada por pandeiros e distorções de guitarra. Do Cazuza tinha ainda "Faz Parte do meu Show", interpretada pelo próprio, e "É" de Gonzaguinha.

A versão que Verônica Sabino postou na internet é diferente daquela que foi ao ar na novela, cheia de teclados com efeitos sonoros bem típicos dos anos 80. Nessa atual em que ela divide o palco com Marcelo num duo voz e piano, ganhou-se um tom a mais de intimidade, chamando atenção para a beleza da melodia.

domingo, 24 de outubro de 2010

Homenagem Vocal aos Doces Bárbaros


4 Cantus encerra Festival de Grupos Vocais com os sucessos
que marcaram a música basileira na década de 70

O Festival de Grupos Vocais da Lapa vai deixar um gostinho de quero mais. Tanto é que o sucesso de público levou o curador do encontro, Marcelo Caldi, a pensar numa próxima edição, porém em data ainda a ser definida. Quem quiser aproveitar o último dia deste evento, será na próxima terça-feira (26/10), a partir das 21h30, no Lapinha (Avenida Mem de Sá, 82), com o 4 Cantus, numa homenagem aos Doces Bárbaros.

Os sucessos do show que reuniu Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa na década de 70 serão revividos, mais de 30 anos depois, numa leitura que privilegia os arranjos e as texturas vocais. Dentre outros trabalhos, o grupo 4 Cantus homenageia os Doces Bárbaros desde 2007, por considerarem o repertório uma obra-prima da música brasileira.

O público poderá conferir as versões de “Jóia” (Caetano Veloso), “Um Índio” (Caetano Veloso), “Fé Cega, Faca Amolada” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), “São João Xangô Menino” (Caetano Veloso e Gilberto Gil), “Divino Maravilhoso” (Gilberto Gil), entre outros. O 4 Cantus é formado por Maurício Detoni (diretor e arranjador), Ana Baird, Marcela Mangabeira e Danilo Frederico.

O show será aberto por um número solo de Marcelo Caldi, cantando e tocando, na sanfona e no piano, os sucessos do novo disco “Cantado” e mais outras preferidas.

Desde que assumiu a curadoria do Lapinha, há cinco meses, Marcelo consegue lotar a casa com a mostra de compositores e grupos da nova geração, que dificilmente encontram espaço em lugares tradicionais da Lapa. “É a prova de que precisamos investir cada vez mais em nossa qualidade musical, pois temos público para isso”, afirma.


Serviço:
Festival de Grupos Vocais
Terça-Feira, 26/10, 21h30
Lapinha – Av. Mem de Sá, 82, Lapa
Ingressos a R$ 12
(21) 2507-3435
http://lapinha-rio.com.br/site

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Melhor Notícia do Dia


No dia do meu aniversário, em 19 de outubro de 2010, na aurora do terceiro milênio, em meio a uma disputa eleitoral marcada por fundamentalismos medievais, surge uma notícia inusitada, pura, real, maravilhosa... uma coisa tão surpreendente e ao mesmo tempo simples, local, individual, uma ação pessoal que retumbou numa dimensão global. Pois, no cerne de uma disputa mesquinha envolvendo valores antiquados e cargos do próximo governo, a senhorita Veronika pôde enfim mudar o seu nome inscrito na certidão de nascimento. Afinal, nenhum de seus amigos a conhece como Antonio, a denominação que resulta em constrangimentos quando tem de apresentar documentos de identidade.

O juiz estadual de Bagé, do Rio Grande do Sul (olha que máximo!), argumentou que, apesar do arraigado conteúdo judaico-cristão nos ordenamentos jurídicos das culturas ocidentais, prevalece em sua decisão o "princípio fundamental da dignidade da pessoa humana".

Eis um belíssimo presente de aniversário! Sopro as velinhas desejando mais poesia aos nossos juristas, e que o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana esteja presente em todas as setenças de hoje em diante!

Justiça Estadual autoriza transexual a mudar de nome
sem cirurgia de mudança de sexo



A Justiça Estadual autorizou transexual a retificar seu registro civil de nascimento, mudando o prenome de Antônio para Veronika, mesmo sem ter realizado cirurgia de modificação de sexo. A decisão é do Juiz de Direito Roberto Coutinho Borba, Diretor do Foro e titular da 3ª Vara Cível de Bagé.

A sentença determina, ainda, que o Registro Civil das Pessoas Naturais de Bagé deverá zelar pelo sigilo da retificação do assento da parte, ficando vedado fornecimento de qualquer certidão para terceiros acerca da situação pretérita, sem prévia autorização judicial.

Caso

O autor ingressou com ação de alteração de registro civil alegando que sempre apresentou tendência pela feminilidade, fazendo uso de roupas e maquiagens femininas. Afirmou que sempre se sentiu uma mulher aprisionada em um corpo masculino e referiu que é conhecida em seu meio social como Veronika.

Discorreu sobre o preconceito que enfrenta pela identificação de seu nome de gênero masculino, a despeito der sua aparência feminina, e que se encontra em busca de realização de cirurgia de modificação de sexo. Teceu considerações a respeito do transexualismo e da possibilidade de modificação de seu registro civil, argumentando ser dispensável a prévia modificação do sexo, mediante cirurgia, para a alteração do registro.

O Ministério Público opinou pela prévia realização de cirurgia de modificação de sexo.

Sentença

No entendimento do Juiz Roberto Coutinho Borba, a tutela dos direitos dos homossexuais e dos transexuais há muito encontra resistência nos ordenamentos jurídicos em decorrência do arraigado conteúdo judaico-cristão que prepondera, em especial, nas culturas ocidentais. A despeito do caráter laico da República Federativa do Brasil, parte considerável de nossa legislação infraconstitucional ainda se encontra atrelada às questões de índole religiosa, observa o magistrado. Cumpre, assim, a prevalência, no caso concreto do princípio fundamental da dignidade da pessoa humana.

Segundo ele, soa desarrazoado que não se outorgue chancela judicial à parte demandante com o condão de evitar prejuízos hipotéticos, quando prejuízos evidentes lhe são impostos cotidianamente, quando é constrangida a exibir documentos de identificação não condizentes com sua aparência física. Fazer com que a autora aguarde realização de cirurgia que não se revela indispensável a sua saúde e, que por tal razão não tem data próxima para ser realizada, seria impor-lhe continuar a enfrentar constrangimentos por toda vez que lhe for exigida a identificação formal, documental, analisa o Juiz.

Conferir a modificação do nome do transexual é imperativo indesviável do princípio da dignidade da pessoa humana, medida que evidentemente resguardará sua privacidade, liberdade e intimidade, diz a sentença. Exigir-lhe a realização do indigitado procedimento cirúrgico é impor-lhe despropositada discriminação, é manter-lhe permanentemente sob o olhar crítico, desconfiado e preconceituoso daqueles que não se adaptam às mudanças dos tempos.

Segundo artigo 58, caput, da Lei dos Registros Públicos, o prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos e notórios. A interpretação que a doutrina e a jurisprudência têm outorgado à substituição, em regra, vai limitada às pessoas dotadas de eloquente aparição pública. Porém, reputo que se trata de concepção por demais restritiva da regra supracitada, pondera o magistrado. É dever-poder do julgador, quando instado para tanto, na especificidade do caso concreto, fazer valer o texto normativo constitucional, suprindo lacunas com aplicação da principiologia quando (e se) necessário.


EXPEDIENTE
Texto: Ana Cristina Rosa
Assessora-Coordenadora de Imprensa: Adriana Arend
imprensa@tj.rs.gov.br

Publicação em 19/10/2010 11:06

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fundamentalismos religiosos são ameaça à democracia brasileira


*Luís Carlos Lopes

Infelizmente, as eleições presidenciais não se resolveram no primeiro turno. Ter-se-á que voltar às urnas no próximo dia 31 de outubro. Nesta data, quando chegar a noite, o novo presidente(a) será conhecido de todos brasileiros. Ao que parecia, no primeiro turno, o processo eleitoral teria resolvido a mesma questão. Mas isto não ocorreu. Os resultados impuseram a celebração do segundo turno e para isto os candidatos e eleitores terão que se posicionar. A política é cheia de surpresas, de revelações que precisam ser claramente avaliadas.

A disputa voltará a ser, com mais ênfase, a luta contrária ao candidato-síntese das direitas do país. É possível que ambos disputantes digam – verdade ou mentira – que eram ambientalistas desde criancinhas, bem como, sempre defenderam os princípios religiosos, como mais importantes do que os de natureza laica, isto é, os relacionados à política real.

Equívocos sobre equívocos serão cometidos na tentativa de se obter a vitória final. É quase impossível evitar que tal ocorra, quando o objetivo se esvai em trinta dias e o que se quer é vencer de qualquer modo. De todo o jeito, é preciso lembrar que o presidente da República não é e nem será o proprietário das crenças de ninguém e que o Brasil é um país plural, onde convivem modos diversos de se crer. O que se espera é que o futuro presidente(a) garanta a continuação das conquistas dos trabalhadores, as ampliem e eleve o país a um novo patamar possível, do ponto vista social e cultural.

Um dos problemas que afloraram nesta eleição é o da emergência dos fundamentalismos religiosos católicos e protestantes, tentando influir nas decisões políticas do país. Até mesmo a famosa organização fascista-católica Opus Dei, de grande penetração na Península Ibérica, estaria presente em São Paulo, apoiando o candidato oficial do PSDB. O fundamentalismo de origem protestante renovada teria tido o seu peso nas eleições em vários níveis. Padres e pastores ultraconservadores instaram seus fiéis a apoiarem determinados candidatos e participaram na rede de intrigas sociomidiáticas que vem caracterizando esta eleição. Esta atitude vinha sendo desenvolvida em várias campanhas e problemas nacionais. Desta vez, surgiu com maior força e, talvez, para ficar.

O problema dos grupos religiosos fundamentalistas não é de natureza teológica. Eles demonstram possuir, onde atuam, uma visão política antiga que flerta com o fascismo. Segundo estas organizações, as verdades que acreditam devem ser estendidas a todos. As pessoas deveriam simplesmente obedecer como cordeiros a determinação desta minoria. Apesar de numerosos, eles são minoria e não são tão organizados como parecem ser. Suas opiniões flutuam como folhas ao vento, porque são determinadas pelo que ouvem nos seus templos e nas redes de comunicação que dominam. O recado que passaram é que existem e precisam ser considerados. Entretanto, não é difícil ver que suas convicções, quando ultrapassam o terreno religioso, são facilmente moldáveis pelas exigências que pesam sobre todo mundo, vindas da sociedade de consumo e do espetáculo, isto é, do capitalismo contemporâneo.

As próprias características das religiões professadas pelos mais fundamentalistas os aproximam de problemas materiais bastante concretos. O autor destas linhas não crê que o problema seja exatamente o aborto, praticado na ilegalidade por pelo menos três milhões de brasileiras a cada ano. Pensa que existem muitos que não crêem de fato nas mesmas coisas ditas nos templos, nos programas religiosos da TV e das emissoras de rádio, na imprensa religiosa e nos canais internéticos dominados pela ortodoxia da fé. De algum modo, eles sabem disto tudo, mesmo que neguem ou façam de conta que o mundo é exatamente o que eles acham que deveria ser. De fato, o que desejam é ser reconhecidos e precisam para isto provocar e aprender os limites de suas ações. Não se vive o mundo medieval e nem mesmo o da Reforma e o da Contra-Reforma. Queira-se ou não, religião é coisa fundamentalmente de foro íntimo, compartilhada entre iguais em lugares específicos.

É difícil imaginar que todos os eleitores que votaram sob a influência fundamentalista sejam tão radicais, e acreditem na teoria e na prática que suas verdades são inabaláveis. Certamente, entre as ovelhas existem muitas que podem ser desgarradas e entre os padres, os pastores, nem todos, são tão obedientes assim às ordens da conservação. Como quaisquer seres humanos, eles têm dúvidas e esperam ser ensinados a partir de outras fontes de autoridade, além das que se apropriaram de suas consciências. É provável que alguns queiram ser eles mesmos, por não serem absolutamente alienados ou loucos. Esses podem vir a rejeitar posturas de grupo que não contemplem diferenças individuais. Podem se dividir e votar no segundo turno de modo diverso.

Para convencê-los é preciso repolitizar o debate. A agenda básica do país não é a perseguição às religiões minoritárias e às suas crenças. Espera-se que isto jamais seja o mote de qualquer governo. O Brasil é um país tolerante a qualquer crença e a qualquer movimento religioso. As pessoas devem ser livres para acreditar no que quiserem, mas precisam ser educadas para entender que suas crenças e o modo em que vivem não são únicos. Alguém precisa lhes dizer que não se está na Idade Média, na época do nazifascismo e da ditadura militar. Todos podem ser livres responsavelmente, sabendo os limites sociais de suas liberdades. Ninguém deve impor aos outros, o que acredita como certo e inelutável. A luta é pelo convencimento livre de pressões e imposições é uma conquista que abrange a todos. Mesmo que se saiba que o problema de alguns é o da falta de escolas sérias e de mídias que realmente complementem o processo educacional.

Acha-se estéril uma discussão retórica sobre o problema do aborto. Esta não é uma questão a ser tratada no calor de uma eleição. De outro lado, mais cedo ou mais tarde ele será legalizado. Isto já ocorreu há muito tempo nos EUA, no Canadá, na Europa Ocidental e em Cuba. No Oriente inúmeras nações o legalizaram, tais como a China, a Índia, dentre outras. A América Latina é um bastião contrário, cada vez mais solitário. Todavia, há inúmeros sinais de ruptura. O mais recente foi sua legalização na cidade do México. A marcha é inexorável e precisa ser conhecida de todos. Se ele vier, quem for contrário poderá continuar a sê-lo. Ninguém será obrigado a fazê-lo. Tal como as religiões, isto é, em grande parte do mundo atual, uma questão de foro íntimo. O que tem que acabar é a hipocrisia e a exploração radical das crianças no mundo real.

*Luís Carlos Lopes é professor e escritor.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Do choro ao rock: novos arranjos vocais para grandes sucessos


Versatilidade é a marca d’Os Ordinários, que sobem ao palco
na terceira semana do Festival de Grupos Vocais da Lapa


Depois de duas apresentações com casa cheia, o Festival de Grupos Vocais da Lapa recebe Os Ordinários na próxima terça-feira (19/10), às 21h30, no Lapinha (Av. Mem de Sá, 82), com repertório versátil e arranjos inéditos para sucessos nacionais e internacionais.

Formado por seis vozes à capela, mais um tempero percussivo, Os Ordinários entoarão canções de Stevie Wonder (“Overjoyed”), Lennon e McCartney (“Here, There and Everywhere”), além de um passeio pelo cancioneiro brasileiro através do choro, samba, pop e bossa nova, com Gilberto Gil (“Ladeira da Preguiça”), Johnny Alf (“Eu e a Brisa”), Jorge Ben Jor (“Zazueira”), Roberto Carlos (“Quando”) e até Ernesto Nazareth (“Brejeiro”), entre outros.

Os arranjos e a direção musical são de Augusto Ordine, que já passou pelos melhores grupos vocais brasileiros, como BR6 e Bebossa. Também compõem Os Ordinários os cantores Luciano Dyballa, Gustavo Campos, Luiza Sales, Alice Sales e Maíra Martins, que prometem uma performance musical de excelência, chamando o público para cantar junto.

Público

É a primeira vez que a Lapa recebe um Festival de Grupos Vocais, uma iniciativa do curador Marcelo Caldi, responsável por transformar as terças-feiras do Lapinha num concorrido espaço para os fãs de música brasileira. “É a prova de que precisamos investir cada vez mais em nossa qualidade, pois temos público de sobra para isso”, reitera.

Os turistas também estão descobrindo no Lapinha o ponto favorito para apreciar a nossa sonoridade. Um grupo de dinamarqueses compareceu em peso ao show do Bebossa realizado na última terça (12/10). A admiração dos gringos tem uma explicação. “A gente canta muito mais notas que os estrangeiros”, afirma Marcelo Caldi.

Na música brasileira, conforme o curador, os tempos são divididos em semicolcheias (quatro notas por tempo), dentro de um ritmo sincopado, isto é, notas fora do tempo forte. “A música vocal estrangeira, em geral, é dividida em colcheias (duas notas por tempo), o que facilita demais a vida de um cantor”, informa.

Marcelo explica que a música coral tem uma de suas raízes nos cânticos religiosos europeus. “Valorizar os corais em nosso país significa intensificar a educação nas escolas. A voz é a mola mestra para a aprendizagem musical. E lembremos que a música está intimamente ligada ao desenvolvimento da sensibilidade da criança, além de coordenação, concentração, destreza, precisão”, diz. “E quem canta seus males espanta”, relembra.



Serviço:
Festival de Grupos Vocais
Às terças-feiras, de 05 a 26/10, às 21h30
Lapinha – Av. Mem de Sá, 82, Lapa
Ingressos a R$ 12
(21) 2507-3435
http://lapinha-rio.com.br/site

terça-feira, 12 de outubro de 2010

De Cebu para o Brasil

Só agora descobri que Cebu é uma Província das Filipinas, formada por uma ilha homônima e outras próximas... As aeromoças fazem dancinhas imitando Lady Gaga para chamar atenção dos passageiros, boa parte formada por turistas rumo às paradisíacas praias do lugar. Pois é de lá que podemos tirar um ótimo exemplo para a política carcerária brasileira. Os prisioneiros viram bailarinos! Esforço físico, concentração, disciplina, senso de coletividade, cooperação e... sensibilidade.

Divirtam-se!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cidadania LGBT e as Eleições 2010





Toni Reis*

Já na primeira semana do segundo turno das eleições presidenciais de 2010, dois Projetos de Lei - da competência do Legislativo Federal – surgiram no debate acerca das candidaturas ao mais alto cargo do Executivo. Nesta confusão entre competências das esferas governamentais, trouxe-se para a arena eleitoral a discussão da cidadania da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), como se a questão dos direitos humanos de determinados setores da sociedade fosse algo que pudesse ser usado para desmerecer uma ou outra candidatura à Presidência da República.



À luz das discussões e declarações feitas aos meios de comunicação na semana passada sobre os Projetos de Lei em questão: o Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 122/2006 e o Projeto de Lei nº 4914/2009; sinto-me obrigado a fazer umas considerações e a reproduzir na íntegra o texto de ambas as proposições, para que – em vez distorções e afirmações inverídicas a seu respeito – os(as) leitores(as) possam conhecer, avaliar e chegar às suas próprias opiniões sobre os mesmos. Recorrendo ao filósofo grego Aristóteles, quando disse “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete”, vamos à reflexão:



O PLC 122/2006 objetiva amparar setores da população que ainda não contam com legislação específica que os garanta a proteção contra a discriminação, criando um paralelo com outras leis já regulamentadas que dispõem sobre crimes de discriminação, como é o caso do racismo. Ademais, o PLC 122/2006 não se restringe somente à proteção da população LGBT, sendo muito mais abrangente do que isso.



Projeto de Lei da Câmara nº 122, de 2006:



(Substitutivo, aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal em 10/11/2009)



Art. 1º A ementa da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com a seguinte redação:



“Define os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero.” (NR)



Art. 2º A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com as seguintes alterações:



“Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero.” (NR)



“Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares ou locais semelhantes abertos ao público.

Pena: reclusão de um a três anos.



Parágrafo único: Incide nas mesmas penas aquele que impedir ou restringir a expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público de pessoas com as características previstas no art. 1º desta Lei, sendo estas expressões e manifestações permitidas às demais pessoas.” (NR)



“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero.

Pena: reclusão de um a três anos e multa.” (NR)



Art. 3º O § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passa a vigorar com a seguinte redação:

“§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero:

..............................................................................” (NR)



Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.





No caso especifico da população LGBT, determinados setores no Congresso Nacional têm argumentado desde a Constituinte que basta a disposição generalizada constante do Art. 3º da Constituição Federal, de que não haverá “preconceitos de ... sexo, ... e quaisquer outras formas de discriminação.”



Ora, se fosse assim, não ocorreriam em média 200 assassinatos de pessoas LGBT por ano no Brasil; a impunidade dos autores destes crimes não seria corriqueira; não haveria estudos científicos produzidos por organizações de renome, como a Unesco, e até pelo próprio Ministério da Educação, comprovando inequivocamente a existência de níveis elevados de práticas e atitudes discriminatórias contra pessoas LGBT nas escolas; não haveria estudos da Academia confirmando esta mesma discriminação na sociedade brasileira como um todo. O Governo Federal não teria implantado o Programa Brasil Sem Homofobia, e não estaria implementando o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, se não existissem discriminação e violência contra esta população.



Parte do propósito do PLC 122/2006 é contribuir para reverter este quadro vergonhoso de desrespeito aos direitos humanos básicos da população LGBT no Brasil, como descreveu o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello:



“São 18 milhões de cidadãos considerados de segunda categoria: pagam impostos, votam, sujeitam-se a normas legais, mas, ainda assim, são vítimas de preconceitos, discriminações, insultos e chacotas” ... e que as vítimas dos homicídios ... “foram trucidadas apenas por serem homossexuais”.



O PLC 122/2006 tem sido apelido por determinados setores de “mordaça gay”. Afirmamos que a liberdade de expressão é universal, um direito de todos, inclusive a liberdade de expressão de crença religiosa, conforme garantida constitucionalmente. O projeto não veda que dentro do estabelecimento religioso se manifestem as crenças e se mantenham as posições religiosas, nem existe a possibilidade de padres ou outras autoridades religiosas serem presos por estes motivos e muito menos a Bíblia ou outros livros sagrados serem "modificados". Mas a liberdade de expressão, seja de quem for (das religiões, das pessoas LGBT, de todo mundo), também há de respeitar o próximo, sem discriminá-lo. Isto vale para todos, e não se constitui em uma espécie de penalidade às religiões. É apenas a aplicação do preceito constitucional da universalidade da não discriminação e da não violência.



Ademais, o PLC 122/2006 foi motivo de várias audiências públicas e já sofreu alterações no Senado, visando atender aos anseios acima expostos. Ao terminar sua tramitação no Senado terá que voltar para a Câmara dos Deputados em razão das modificações que sofreu e ainda poderá vir a sofrer. Sempre estivemos abertos ao diálogo com todas as partes interessadas para que a proposição final tenha a melhor redação possível, ao mesmo em que garanta a não discriminação, inclusive das pessoas LGBT.





O outro projeto de lei que teve seu propósito distorcido no debate das eleições presidenciais diz respeito à união estável entre pessoas do mesmo sexo. Reproduzo aqui o texto desta proposição:



Projeto de Lei nº 4914/2009 de 2009:



Art. 1º - Esta lei acrescenta disposições à Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, relativas à união estável de pessoas do mesmo sexo.



Art. 2º - Acrescenta o seguinte art. 1.727 A, à Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, Código Civil.



“Art. nº 1.727 A - São aplicáveis os artigos anteriores do presente Título, com exceção do artigo 1.726, às relações entre pessoas do mesmo sexo, garantidos os direitos e deveres decorrentes.”



Art. 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.





Como se pode ver, o P/L nº 4914/2009 propõe tão somente o alterar o Código Civil para que reconheça a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Em nenhum momento propõe o casamento, pelo contrário: faz exceção a esta possibilidade.



Cabe indagar, por que tanta polêmica acerca do “casamento gay nas igrejas”. Onde será que está escrito isso no projeto de lei acima?



O P/L nº 4914/2009 visa apenas garantir os direitos civis de pessoas do mesmo sexo que convivem em união estável. Isto porque estudos mostram que, comparando um casal heterossexual com um casal homossexual, este último não tem acesso a pelo menos 78 direitos garantidos ao casal heterossexual, entre eles: não têm reconhecida a união estável; não têm direito à herança; não têm direito à sucessão; não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz. Em alguns casos essa falta de amparo aos casais do mesmo sexo chega a ser cruel, como no caso da morte de um(a) parceiro(a), onde o(a) parceiro(a) sobrevivente – às vezes depois de muitos anos de convivência – além de perder o(a) parceiro(a), fica sem nenhum bem e nem sem onde morar, porque a família do(a) falecido(a) exerce o direito sobre a propriedade deste(a), enquanto o(a) sobrevivente é desamparado(a) pela lei na forma como está.

Aqui tem-se um caso patente do descumprimento das disposições Constitucionais da igualdade, da não discriminação e da dignidade humano, que o P/L nº 4914/2009 visa corrigir.



Há de se lembrar que tanto o PLC nº 122/2006 como o P/L 4914/2009 tratam de questões de direitos civis. São proposições legislativas fundamentadas na lei maior da nação brasileira, a Constituição Federal.



Ainda, o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e os princípios, direitos e garantias fundamentais de nossa Constituição se baseiam nela. A Declaração é “Universal” porque os direitos humanos são indivisíveis. Ou seja, aplicam-se igualmente a todos os seres humanos, independente de sua nacionalidade, cor, etnia, convicção religiosa, e independente de serem heterossexuais, bissexuais, homossexuais, ou de qualquer outra condição



Outro princípio fundamental que deve ser preservado acima de tudo neste debate é o princípio da laicidade do Estado. Desde a Proclamação da República, em 1889, o Estado brasileiro é laico. Isso quer dizer que no Estado laico não há nenhuma religião oficial, e há separação entre o governo e as religiões. Assim sendo, os cultos, as crenças e outras manifestações religiosas são respeitadas, dentro de suas esferas independentes, da mesma forma que o Estado tem sua independência das religiões.



Creio piamente que os direitos humanos não se barganham, não se negociam, simplesmente se respeitam, e que devemos escolher nossa candidatura pelas propostas que tem pelo país, pela biografia, pela capacidade de governar, e pela capacidade de fazer valer a Constituição Federal, indiscriminadamente.



Como disse Ulisses Tavares precisamos olhar de novo: não existem brancos, não existem amarelos, não existem negros: somos todos arco-íris.




* Toni Reis, Presidente da ABGLT– Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

sábado, 9 de outubro de 2010

Igreja carioca repudia outdoors homofóbicos de Silas Malafaia

Vejam neste link a matéria em que mostra a verdadeira cara do fundamentalismo à brasileira. Gosto de Dilma quando diz que o povo brasileiro não tolera o ódio. É claro que é uma mentira, grosso modo, mas me faz perceber que gestos homofóbicos como o desse senhor aí não são e não serão a tônica da religiosidade brasileira, muito mais profunda do que quaisquer dogmas:


Elos LGBT DF: Igreja carioca repudia outdoors homofóbicos de Sil...:

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bossa nova à capela e com sotaque nordestino


Considerado melhor grupo vocal de 2009, Bebossa homenageia Roberto
Menescal no concorrido e inédito Festival de Grupos Vocais da Lapa



Casa cheia no primeiro dia do Festival de Grupos Vocais na Lapa. Cerca de 150 pessoas disputaram as mesas do Lapinha e deram muitas gargalhadas ao som de Os Men The Sá, grupo vocal cômico que trouxe plágios de folclores argentino e italiano e que fechou a noite com uma versão macho man de I Want Break Free, do Queen. A próxima terça-feira, 12/10, será a vez do Bebossa subir ao palco, com uma homenagem ao compositor bossanovista Roberto Menescal.

Considerado o melhor grupo vocal de 2009 pela Rádio Cultura Brasil, o Bebossa agrega aos ritmos brasileiros uma harmonia jazzística, bem ao estilo da bossa nova. A formação à capela impressiona o público com a sensação de se estar ouvindo uma banda, quando, na realidade, são as vozes que imitam instrumentos como trompete, baixo, guitarra e percussão. No repertório, estão canções de Menescal (Agarradinho e Japa), além de Edu Lobo (Zanzibar) e Gilberto Gil (Refazenda), dando um sotaque nordestino ao grupo baseado no Rio de Janeiro.

Para o curador do Festival, Marcelo Caldi, o Bebossa é uma expressão do que há de mais moderno em música vocal no país. E destaca o diferencial dos grupos brasileiros: “aqui a gente canta muito mais notas que os estrangeiros”. Na música brasileira, conforme Marcelo, os tempos são divididos em semicolcheias (quatro notas por tempo), dentro de um ritmo sincopado, isto é, notas fora do tempo forte. “A música vocal estrangeira, em geral, é dividida em colcheias (duas notas por tempo), o que facilita demais a vida de um cantor”, explica.

Essa riqueza é a marca do Festival de Grupos Vocais, uma iniciativa inédita que surpreendeu o público frequentador da Lapa, o tradicional reduto boêmio movido a samba e choro. “É a prova de que precisamos apresentar às pessoas a nossa diversidade musical, aliada à qualidade”, comemora.

O Bebossa é formado por Zeca Rodrigues, Matias Corrêa, Marcela Velon, Cauê Nardi, Marcela Mangabeira e Carol Assad. No próximo dia 19/10, quem subirá ao palco, por sua vez, é o grupo Os Ordinários. Reconhecido pela versatilidade e qualidade dos arranjos, o sexteto interpreta canções que vão desde o rock dos Beatles até o choro de Ernesto Nazareth. E no dia 26/10 será feita uma homenagem aos Doces Bárbaros pelo grupo 4 Cantus.

Serviço:
Festival de Grupos Vocais
Às terças-feiras, de 05 a 26/10, às 21h
Lapinha – Av. Mem de Sá, 82, Lapa
Ingressos a R$ 12
(21) 2507-3435
http://lapinha-rio.com.br/site

sábado, 2 de outubro de 2010

Tributo a Música Vocal na Lapa




Nem só de samba e choro vive a Lapa. Os frequentadores do reduto boêmio do Rio de Janeiro serão surpreendidos ao longo de outubro por um Festival de Grupos Vocais. O objetivo é chamar a atenção para o que há de mais inovador nas múltiplas maneiras de se fazer música tendo a voz como principal, e muitas vezes único, instrumento. Os encontros serão às terças-feiras, a partir das 21h, no Lapinha, Av. Mem de Sá, 82, a mais recente casa de show inaugurada na Lapa. Ingressos a R$ 12.

A primeira atração, na próxima terça-feira, 05/10, será o grupo de música cômica Os Men The Sá. Formado por oito vozes masculinas, o “bando musical”, como se autodenominam, apresenta esquetes humorísticos e plágios de sucessos como “I Want to Break Free”, do Queen, além de interpretações nada convencionais de temas folclóricos argentinos (“Canción de mi Pueblo”) e italianos (“San Ictícola”).

Já no dia 12/10 será a vez do sexteto à capela Bebossa entoar os clássicos da bossa nova, numa homenagem ao compositor Roberto Menescal. Considerado o melhor grupo vocal de 2009 pela Rádio Cultura Brasil, o Bebossa cantará ainda sucessos de Edu Lobo (“Zanzibar”) e Gilberto Gil (“Refazenda”), entre outros.

Unindo voz e percussão, o grupo Os Ordinários sobe ao palco no dia 19/10. Reconhecido pela versatilidade e qualidade dos arranjos, o sexteto interpreta canções que vão desde o rock dos Beatles até o choro de Ernesto Nazareth. E no dia 26/10 será feita uma homenagem aos Doces Bárbaros pelo grupo 4 Cantus.

Diversidade

De acordo com o curador do Festival, Marcelo Caldi, os artistas foram escolhidos em função dos variados tipos de sonoridade que eles oferecem, tanto no repertório quanto na formação. “Temos grupos à capela que imitam o som de vários instrumentos, como contrabaixo, bateria, guitarra, trombone... A impressão é que há uma banda tocando, quando, na realidade, só existem vozes”, comenta o músico, que fará participação especial em pelo menos três das quatro apresentações.

Marcelo explica que a música coral tem uma de suas raízes nos cânticos religiosos europeus. Embora não exista uma forte tradição no Brasil, o curador destaca a presença de grupos que marcaram gerações nas últimas décadas como o Bando da Lua, Os Cariocas, MPB4, Quarteto em Cy e Boca Livre.

“Valorizar os corais em nosso país significa intensificar a educação nas escolas. A voz é a mola mestra para a aprendizagem musical. E lembremos que a música está intimamente ligada ao desenvolvimento da sensibilidade da criança, além de coordenação, concentração, destreza, precisão”, afirma. “E quem canta seus males espanta”, reitera.

O artista fez parte do legendário grupo Garganta Profunda durante sete anos e atualmente compõe o BR6, considerado uma das melhores formações de jazz à capela do mundo, conforme o Contemporary A Cappella Recording Award, uma espécie de Grammy da música vocal. Desde que assumiu a curadoria do Lapinha, há cinco meses, Marcelo consegue lotar a casa com a mostra de compositores e grupos da nova geração, que dificilmente encontram espaço em lugares tradicionais da Lapa. “É a prova de que precisamos investir cada vez mais em nossa qualidade musical, pois temos público para isso”, afirma.

Serviço:
Festival de Grupos Vocais
Às terças-feiras, de 05 a 26/10, às 21h
Lapinha – Av. Mem de Sá, 82, Lapa
Ingressos a R$ 12
(21) 2507-3435
http://lapinha-rio.com.br/site

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Festa Musical de Marcelo Caldi

Foto: Sérgio Bondioni

Marcada pela fusão inusitada de estilos, formas e tendências, a obra de Marcelo Caldi expressa um sentimento de liberdade e ousadia, e aponta para quais serão os caminhos do fazer musical no início do século XXI. Ao romper as fronteiras do erudito com o popular, aproximar o tango argentino do forró brasileiro e apresentar-se como cantor e ao mesmo tempo instrumentista virtuose, além de compositor e arranjador, o artista tornou-se reconhecido como um dos mais brilhantes da nova geração brasileira.

É um dos responsáveis pela revitalização da sanfona no cenário contemporâneo. Criou uma linguagem jovem e cosmopolita para o tradicional timbre sertanejo, harmonizando-o com distorções de guitarra elétrica, rock n’ roll, jazz e até drum and bass. Requintado e moderno, sem, contudo, perder de vista o legado brasileiro, o artista resgatou o antigo elo do instrumento de fole com o choro, samba, pagode, valsa e salsa, entre outros. “Com a sanfona eu me sinto cidadão do mundo”, sintetiza.

Pianista de formação clássica, aliou a técnica apurada herdada dos pais à aprendizagem autodidata do acordeão, o que o livrou dos “academicismos”, como ele mesmo diz, e abriu portas para um manancial até então desconhecido. Nomes como Luiz Gonzaga, Sivuca e Dominguinhos passaram a figurar em seu repertório, ao lado de Bach, Liszt e Villa-Lobos.

“Minha obra é resultado desse ‘cozido’ musical delicioso do qual faço parte”, explica Marcelo. “O compromisso é com a música e não com este ou aquele estilo. Por isso me sinto à vontade para tocar um baião no piano e um Beethoven na sanfona nordestina”, completa.

A amplitude do seu trabalho tem relação direta com a visão que o artista tem da música, que “pode ser ao mesmo tempo religião e festa, alegria e tristeza”. “Ela está ligada a todas as relações e emoções que eu tenho. É a plenitude do meu sentimento, o canal direto do meu coração para o mundo exterior. É tudo o que eu vivo. É o meu sustento. Alimenta meu corpo e minha alma”.

Veia autoral

A veia autoral de Marcelo Caldi se revela em quatro discos solo. O mais recente é “Cantado” (MP,B, 2009), em que se apresenta pela primeira vez como cantor solista, resultado de anos de participação em grupos vocais, com destaque para o BR6 – considerado uma das melhores formações de jazz à capela do mundo, conforme o Contemporary A Cappella Recording Award, uma espécie de Grammy da música vocal.

“Eu demorei muito para me considerar cantor. Mas sempre cantei. Eu queria ser o Chico Buarque uma época, com 12 ou 13 anos”, brinca o músico. É curioso que, num país de grandes cantoras intérpretes, Marcelo tenha se inspirado justamente em um cantor que, não raramente, foi criticado pela escassez de recursos vocais. A identidade com o Chico, por outro lado, tem a ver com o compositor que entoa suas próprias canções, numa dicção perfeita e um timbre suave e límpido, criando uma atmosfera de intimidade com o público. É isso o que o ouvinte pode esperar em “Cantado”.

A concepção do CD, bem como todas as composições e arranjos, levam a assinatura de Marcelo Caldi. Destaque para a participação de Elza Soares em “Guerra é Guerra” (letra de Sérgio Ricardo) e para a parceria de Edu Krieger em “Nem Parecia”, uma sátira ao discurso catastrofista que invade as mídias: “depois que o planeta explodir / a gente prepara um sushi / desliga a tevê / cansados de ver / que o mundo acabou / me abraça e vamos dormir”.

“Cantado” mostra um universo urbano de angústia e solidão: “é a própria cidade que invade num trote cada sonho seu” (“Ser Cidade”, parceria com João Cavalcanti). Ao mesmo tempo manifesta o sonho quixotesco de correr livremente “sem destino e sem rumo (...) / porque é só de amor que eu tenho precisão” (“O Sanfoneiro”, com Sérgio Ricardo). Apresenta dramas amorosos não resolvidos (“Console”, com Vinícius Castro, “Espinheiras”, com Hermínio Bello de Carvalho, e “Aprendiz”, com Tatiana Muniz) e até canções humorísticas (“Xote” e “Viagem Insólita”, letra e música de Marcelo).

Assim como em outros álbuns, uma das marcas de “Cantado” é a presença de tangos e baiões. A influência do ritmo argentino é herdada da mãe, a pianista portenha Estela Caldi, de quem aprendeu praticamente tudo o que sabe de piano. “A linguagem musical que tenho dentro de mim foi ela quem me deu”, conta.

Entre o tango e o baião

Conforme o músico, os ritmos são mais parecidos do que se imagina. Afinal, ambos têm origem africana e se expressam principalmente através dos instrumentos de fole – o bandoneão na Argentina e a sanfona no Brasil – que se assemelham em timbre, intensidade e dificuldade técnica.

A penetração do tango na música brasileira remonta ao início do século XX e tem como expoente o gênio Ernesto Nazareth, de quem Marcelo Caldi gravou a emblemática “Batuque”, criada em 1901. A peça está em “Forró e Choro Vol. 1” (Delira, 2008), o disco de maior sucesso do artista, indicado ao Prêmio de Música Brasileira 2009 e facilmente encontrado na internet, em sites e blogs de aficcionados, no Brasil, Estados Unidos e Japão.

A releitura de “Batuque”, depois de mais de cem anos de composta, demonstra não somente a vitalidade da obra de Nazareth como também a ousadia de Marcelo Caldi em propor uma versão “abaiãosada” ou “nordestinada” do tango, aproximando culturas secularmente segregadas. “Esse é o caminho da música moderna. É mais do que nunca uma união de povos e de classes, de tudo o que é possível unir”, defende. Nesse álbum está presente o maior sucesso do artista, o forró “Lembrei do Ceará”, que conquistou diversas plateias no país, e o choro “Atravessado”.

Feito em parceria com o multi-instrumentista Fábio Luna, “Forró e Choro” é uma celebração da grandiosidade da música brasileira. O disco sintetiza um século de história, desde o “Batuque” de Nazareth, passando por Pixinguinha (“Ainda me Recordo”), Jacob do Bandolim (“Migalhas de Amor”), Radamés Gnatalli (“Remexendo”), Paulinho da Viola (“Sarau para Radamés”), entre outros, e culmina na investida autoral de Marcelo e Fábio, que compôs “Dudu e Didi no Forrozim de Caraíva” e “Luiza, Clara e Karina”.

Já o CD “Nesse Tempo” (Delira, 2006) é o reflexo das composições no início da carreira. Com este álbum, foi apontado pela imprensa como um artista que “escancara fronteiras” (João Pimentel) e um “compositor inspiradíssimo” (Maria Luiza Kfouri). O destaque vai para a homenagem a Piazzolla no tango “Fuga de Buenos Aires”.

O primeiro disco, por sua vez, traz o sugestivo nome “Intrometidos” (Independente, 2003), em parceria com o irmão e saxofonista Alexandre Caldi. A veia do compositor já aparece em “Intrometido”, “Xote”, “Nesse Tempo”, “Choro Seco” e “Paradiso”.

Participações

Em doze anos de carreira, Marcelo Caldi participou de shows e gravações ao lado dos maiores nomes da música como Chico Buarque, Elza Soares, Simone, Zeca Pagodinho, Geraldo Azevedo, Mart’nália, Zélia Duncan, Wando, Yamandu Costa, Hamilton de Holanda, Léo Gandelman, entre muitos outros, de inumerável lista.

Em meio a tantos convites, o músico se mantém fiel à própria carreira. “Ser intérprete de mim mesmo, assumir a própria identidade, esse é o caminho mais difícil, mas é o que eu escolhi, porque sempre fui de ir ao encontro dos desafios”, afirma. “Eu componho porque é mais forte do que eu. E se sou compositor, preciso fazer ecoar minha criação. Aprendi que eu preciso mostrar o que vim fazer neste mundo”, conclui.

Quanto ao seu constante bom humor, o artista tem uma explicação: “quem de fato ama a música é mais feliz”. Em sua melhor fase da carreira, Marcelo Caldi deixou de ser mais uma das promessas da nova geração, e se tornou, enfim, uma realidade, que veio para ficar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quinteto Sivuca - 80 Anos do Mestre da Sanfona


Neste ano de 2010, em que Sivuca completaria 80 anos, o QUINTETO SIVUCA faz uma homenagem especial ao mestre da sanfona com shows na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, nos dias 26 e 27 de junho (sábado e domingo) às 19h30. As apresentações trazem uma releitura ousada e contemporânea da obra de um dos maiores gênios da música do Brasil e no mundo.

Formado por músicos do circuito instrumental brasileiro, o QUINTETO SIVUCA surpreende o público a cada show que realiza, não só pela qualidade musical e virtuosidade, mas também pela inovação e atitude, com seus arranjos ousados para sucessos como “Feira de Mangaio”, “João e Maria”, “Adeus, Maria Fulô”, “Homenagem à Velha Guarda”, entre outros. Os músicos garantem a execução de peças densas e complexas, conforme o estilo inconfundível do mestre da sanfona.

O espetáculo é uma viagem pela riqueza da música brasileira, com muito forró, choro, frevo, baião, bossa nova, música erudita, world music e muito “jazz tupiniquim”, conforme a expressão do próprio artista. É a emoção de reencontrar Sivuca ao som dos primeiros acordes. Para as novas gerações que ainda não conhecem o legado do mestre, é uma grande oportunidade para experimentar o que há de mais original e vibrante na música brasileira.

O QUINTETO SIVUCA foi criado em 2006, a partir de uma iniciativa espontânea dos membros do grupo, que é formado por Jorjão Carvalho (baixo), Loureço Vasconcellos (bateria), Marcelo Caldi (sanfona), Guga Mendonça (guitarra) e Paula Faour (teclados).

sábado, 8 de maio de 2010

Da compaixão e outros babados

"A dor de todos os oprimidos dói em mim."

A isso poderia se dar o nome de compaixão. Certa ocasião, um amigo, poeta inclusive, me perguntou como ele poderia fazer piadas ou comentários acerca dos gays sem ser ofensivo. Alguns veados politicamente corretos podem achar a pergunta, em si, uma ofensa. Mas percebi naquele tom uma curiosidade, e até uma certa ingenuidade. Afinal, com esse papo de homofobia, a gente fica receoso de falar qualquer coisa, ele argumentou.

Pois é muito simples, respondi. É só usar a criatividade, um traço peculiar de quem se apresenta como artista. Imagine: e se eu fosse gay, gostaria que as pessoas se referissem a mim de qual maneira? E se eu fosse um índio? Ou um burakumin? Ou um estrangeiro? Ou uma mulher? E se eu fosse, de fato, um filho da puta? Ou qualquer outra coisa?

A compaixão requer, portanto, uma certa habilidade artística, aliada a um desprendimento do “eu”, da nossa personalidade, a fim de se projetar e “ser” o manancial de marginalizados do mundo. Por ser gay, eu, particularmente, tendo a me sentir bastante à vontade, e até feliz, junto aos oprimidos e sofredores de toda ordem. Porque, para tal ordem vigente – incrivelmente vigente – eu sou um perdido, um “perdedor”. Ótimo! Jamais gostaria de estar no lugar daqueles que me “venceram” (parafraseando Darcy Ribeiro).

Mas, vejamos bem, o sentir-se oprimido, por si só, não convoca o sentimento da compaixão. Todos os seres humanos, em maior ou menor grau, são oprimidos, inclusive os opressores são oprimidos pelos desejos demoníacos de segregação e humilhação.

O diferencial, para mim, está na consciência do processo da opressão. Um leão, diante da presa, não se compadece dela. Não pensa “ai, coitadinha, ela tem filhos para criar”. Abocanha-a e pronto. Vermes também não sentem compaixão. Há de se alcançar uma certa nobreza para despertar tais tipos de sentimento, que em muito se aparenta a um dom, uma vocação, um exercício.

Quanto a mim, não quero assassinar os opressores – tal como a burrice histórica dos comunistas – nem muito menos ter piedade, ou auto-piedade (tanto pior!), dos oprimidos. Eu quero é libertar o mundo da opressão. Mas como? Primeiramente passando ao largo do mar de mentiras e enganações que fundam os valores e a moralidade do atual sistema de dominação. Mentiras, aliás, que são as mesmas, apregoadas durante milênios, desde o início desta humanidade. E já passou da hora de meter o dedo na ferida.

***


A primeira vez em que estive no exterior foi numa cidade chamada Reading, a meia hora de Londres. De imediato, chamou à atenção o nome do lugar, que naturalmente me remeteu a “leitura”, embora não haja uma associação direta, por parte dos ingleses, entre o município “Reading” e o termo “reading”.

Outro dado importante foi o número da casa onde me hospedei, 42, que numerologicamente reduz a 6 (4+2), o número da deusa Vênus, que rege o meu signo (Libra) e o ano atual em que vivemos. Depois, logo fui saber a fama de Reading. Ali se situa a prisão onde Oscar Wilde foi encarcerado e humilhado, acusado do “crime” de ser homossexual, no final do século XIX.


Oscar Wilde

Ora bolas, uma pobre bicha latino-americana, com uma queda para a poesia, atravessa o atlântico para dar de cara com uma cidade chamada “leitura”, onde foi preso um dos escritores europeus mais importantes dos últimos séculos, justamente por ser veado. Consta ainda que em Reading foi enforcada a última bruxa da Inglaterra. Segundos antes da morte, ela teria amaldiçoado o lugar.

Distante dos dados biográficos, de Oscar Wilde eu guardava, até então, a sensação de suas histórias, quase fábulas. Particularmente uma, em que um homem, por ser tão amigo e bonzinho para os vizinhos, tanto se sacrificou em prol dos outros que morreu na neve sem a ajuda de ninguém. Não obteve nada em troca de sua benevolência.

De repente, me saltou dessa memória, por detrás das letras, a carne viva do autor, do ser que empunhou a pena e a vida em prol daquelas palavras. Na cadeia, Wilde escreveu longas cartas para o amado que o denunciou. Diante desse cenário, de galhos secos e ventos frios, num inverno negativo, impensável à maioria dos brasileiros, foi impossível não ter sentido compaixão por aquele escritor, libriano como eu, do mesmo decanato (ele do dia 16 e eu do dia 19 de outubro).

Quero dizer, a compaixão nos aproxima. E por mais diferentes que cada um de nós sejamos, a compaixão liberta a mente para buscar as semelhanças, os traços em comum – por mais invisibilizados que eles sejam.

Nem faz tanto tempo assim o episódio ocorrido com Wilde em Reading. Casos desse tipo, infelizmente, são a marca da história da nossa civilização. A prática homoerótica é condenada por todas as grandes religiões institucionalizadas, do ocidente ao oriente. Desde o início dos tempos, o gay foi visualizado como algo subversivo, e anulado, silenciado dos discursos dos governantes, dos exércitos, das ciências e também das artes. Como se fosse uma coisa que não existisse ou, quando muito, uma sombra, algo que, quando praticado, deve, necessariamente, ser escondido. Nem me venham falar que na Grécia Antiga era diferente, que lá as bibas eram as donas do pedaço. Basta ler as primeiras páginas da história da sexualidade, de Foucault, para saber que, mesmo lá, onde muita gente acha que foi um paraíso “homo”, a prática gay foi cercada de regras, de condutas, em que as mulheres, inclusive, não tinham o direito de participar da orgia geral. E, por favor, não me digam que nesta ou naquela tribo do México ou da África os homossexuais eram vistos como semi-deuses, pois mesmo aí, nessa sagração, há também uma segregação, uma separação do convívio dos comuns. Como se fosse algo da ordem do extraordinário, e distante, portanto, do cotidiano dessas populações.

Somente na década de 70 a Organização Mundial de Saúde anunciou que dar o cu não é doença. No Brasil, apenas em 2004 o Conselho Federal de Psicologia proibiu os terapeutas de tratarem as bichas como doentes. Todos sabemos a carga pejorativa incluída nos termos veado, bicha, boiola, baitola, mona, traveco, queima-rosca etc. e etc. Veja bem que ironia: a sociedade que gerou a miséria atual em que vivemos é a mesma que busca, através do escárnio, denegrir a prática gay.
Pois eu transformo todas essas ofensas num grave elogio, aliás, numa solenidade, e, diante dos moralismos que sustentam a miséria social e espiritual em que vivemos, com muita honra, pompas e plumas róseas eu declaro que sou veado, bicha, boiola, baitola, mona, traveco, queima-rosca etc. e etc.
Qualquer sexólogo, psicólogo, psicanalista, qualquer pessoa que se dedique a observar, estudar e experimentar os labirintos da sexualidade humana, qualquer um com um mínimo de sensatez pode concluir que os termos “homossexual”, “heterossexual” e “bissexual” são insuficientes e inadequados para dar conta da diversidade e amplitude do erótico-humano. E que o impulso “homo” está presente, em maior ou menor grau, em cada um de nós. Se não o liberamos, muitas vezes é por mera conveniência e apego às tradições moralistas, que estão provocando nada menos que nosso auto-genocídio.

Agora, imaginemos, por um segundo, o tamanho dessa repressão em nível global – geográfico e histórico. Imaginemos mais, exercitemos nossa criatividade, imaginemos qual seria o tamanho físico, tridimensional, dessa repressão? Seria gigantesca, certamente. E se a repressão tomasse uma forma? Qual seria? Possivelmente, a de um monstro demoníaco, assustador, um dragão com milhares de cabeças, a cuspir fogo contra qualquer desejo proibido.

A essa altura do campeonato, não guardo a menor dúvida de que todo esse pânico, essa aversão ao homoerótico é o ingrediente base, constituinte e gerador do processo civilizacional. Justamente porque, para a prática bichesca, é quase que imprescindível a experiência prazerosa com o cu. Hã? É isso mesmo! E não se trata de uma waldomottice. Qualquer bruxo ou iniciado em magia sexual sabe perfeitamente que o cu é o lugar de mais intenso prazer do corpo e onde os desejos podem se tornar materialidade. Além de ser o ponto zero da acupuntura, o chacra base kundalínico para o yoga, o ponto de geração do feto para a embriologia, e tantas outras coisas. Não é à toa que o ânus é simbolicamente identificado ao número 4, justamente aquele que representa a materialização, a concretude de nossos anseios. O que pensar dos versos do profeta Isaías, que afirma que a justiça é o cinto dos nossos lombos? Está lá no capítulo 11. E o que pensar da visão divina de Ezequiel, que viu uma pedra de safira (ligada à Vênus e, portanto, ao princípio feminino) entre os quadris de Deus? Está lá no capítulo 1. É só conferir, minha gente. Nada do que eu falo é invenção minha, nem de Waldo Motta, a verdade está aí, a olhos nus, atrás de nós, querendo nos abocanhar.

O diferencial de Waldo Motta consiste em, tal como o seu personagem Jurupari, botar a boca no trombone. E de ter sido o primeiro na história (que eu conheço) a dizer com todas as letras o que está interdito, sublimado, subentendido nos textos basilares das civilizações, como se fosse uma impulsão inconsciente, que o ser humano, por mais que a reprima, não consegue negá-la, e a afirma, mesmo negando-a. Qualquer um que se dedicar, com o mínimo de honestidade, a tirar a prova, por si mesmo, dos pressupostos waldomottaneanos, mergulhará num poço fundo de símbolos ancestrais, dados científicos, físicos e matemáticos, livros de arte e de poesia que estão por aí espalhados em sebos e bancas de jornais.

Nosso tempo permitiu aos mais lúcidos a singularidade de tomar conhecimento de como se operam os valores e as ações nas mais variadas culturas em distintos tempos. Isto é, diferentemente de outras épocas, nós gozamos atualmente de uma riqueza de detalhes acerca dos outros povos, suas semelhanças e distinções. Diante de uma banca de jornal, é possível encontrar o livro dos mortos dos egípcios, o manual de teosofia de Blavatsky, o Tao de Lao-Tse, os poemas de Rumi, a bíblia cristã, o alcorão para crianças, o I Ching, um guia de yoga, os princípios do Tai-Chi, a antologia de Jorge Luis Borges, a epopéia de Gilgamesh, os versos de Mário Faustino e Elliot. O que todos eles têm em comum? O cu. É só conferir – que o buraco é mais embaixo. E, aliás, todos nós temos um, não é? Embora seja um elemento erótico, o cu não nos difere, não nos secciona, não nos sexualiza, não nos distingue, tal como o pênis e a vagina. Conforme a máxima de Waldo, “pelas costas somos todos iguais”.


Existem ainda, é claro, aqueles bossais, entre médicos e biólogos, que defendem ardorosamente que o cu só foi feito pra cagar. Eu presenciei uma professora de Biologia dizer, em alto e bom som, para uma sala de 40 alunos da Escola Técnica Federal, que ela, como bióloga e cientista, tinha pleno conhecimento e autoridade para afirmar que o ânus é inadequado para penetração. Imagine quantas vezes tamanha blasfêmia foi pronunciada ao longo da história. Eu reputo isso como a maior mentira pregada pelos doutores e donos desse mundo miserável. Quem me consola é Jesus Cristo, ao afirmar que Deus roubou a sabedoria dos “sábios” e preferiu entregá-la aos simples de coração. Porque um doutor dizer tamanha atrocidade dessa... Doutor de quê? Doutor de merda! Aliás, merda aqui já virou elogio.

A sociedade colocou o cu no mais baixo calão de nossa linguagem. Quantas vezes o vai tomar no cu foi pronunciado como estopim de brigas e encrenquas das brabas. No Rio de Janeiro, quando o vai tomar no cu é dito sério, prenuncia coisas gravíssimas. Ouvi isso às oito horas da manhã, num engarrafamento da Nossa Senhora de Copacabana, numa potência vocal invejável, dito por um motoqueiro negro a um motorista branco de carro. Este último, que até então também esbravejava, se calou.

Por sua vez, quando é anedótico, o vai tomar no cu é a brincadeira predileta no repertório dos homens de conduta sexual normativa. Porque aí, mesmo aí, no tom da piada, o cu permanece como ofensa, tão difamatório que chega a ser ridículo, risível. Nesses jogos heterossexistas, jamais um homem se permitiria assumir que gosta de dar o rabo, a não ser como imitação grotesca dos trejeitos dos boiolas, oportunidade para, mesmo mascarado, dar uma soltada dos códigos machistas – que realmente devem enfadar qualquer cristão.

O próprio código permite essa relativa distensão, afinal não dá pra ser macho a toda hora. Vista por esse viés, a desmunhecada legitima a negação do homoerótico, de forma irônica, sarcástica, pois nega uma experiência ao afirmá-la. Ao mesmo tempo cria uma brecha, uma deixa para a entrada do veado no assunto da roda. E quantas bichas espertas se aproveitaram de uma piada homofóbica para emendá-la numa cantada, e, com alguma sorte, cair numa trepada.

Proibido e escarnecido, o cu – avesso a dicionários e à boa literatura – permanece atrás de todos nós, para todo o sempre. É o elemento de unidade, de cumplicidade, de compaixão. É a chama viva do amor de Deus.

Numa situação de perigo, todos ficam com o cu na mão. Li o depoimento de um brasileiro que presenciou o recente terremoto no Chile e ele afirmou que, naquele momento de tremores, a sua maior vontade foi a de abraçar as pessoas e dizer: eu te amo! Será que vamos precisar de tremores continentais para aprendermos a amar uns aos outros? Quando é que vamos respeitar os outros pelo simples fato de eles serem quem eles são? Seja um burakumin ou um veado, todos nós somos carentes de respeito e de amor. Tudo o que fazemos é porque queremos ser amados. Não dá mais pra gastar esforços retóricos pra dizer e experimentar aquilo que é o mais simples e habita em cada um de nós: a vontade despudorada de amarmos uns aos outros.

domingo, 14 de março de 2010

O Brasil também é Uganda

Retirado do sítio http://amilcartavares.com





A notícia veio por e-mail, enviada pelas comunidades de defesa da liberdade sexual. Parecia um filme de terror, ambientado na idade média: pena de morte para gays em Uganda.

Só agora percebo o vigor rítmico, sonoro (e por que não semântico?) entre “gay” e “Uganda”. Como se mexem os termos, e se confrontam opostos diante de uma extrema semelhança: “gay” e “Uganda”. A sagrada sétima letra “g”, a mais amada pelos maias, é o músculo que tonifica as vogais, símbolos da alma na numerologia. Nesse campo, a palavra “gay” se reduz a seis, o número do amor, ligado ao universo feminino de Vênus. “Uganda”, por sua vez, reduz a três, de ordem masculina, ativa, ligado à comunicação.

Simbolicamente, temos um macho, três, não querendo aceitar o seu duplo feminino, seis. Mas como se parecem... as palavras: sensuais e irmãs, a ponto de eu dizer, no cavalo da metáfora, que Uganda é gay. E deve existir por lá milhares de bibas criando o maior caso para o povo estar tão preocupado assim em assassiná-las.
O filme de terror não parou por aí: mais de 30 mil pessoas foram para as ruas de Kampala, capital do país, em defesa do extermínio dos veados, lideradas por um pastor evangélico.
É impressionantemente terrível constatar que parte considerável das instituições religiosas alimentem a ignorância do povo, quero dizer, ludibriam-no com mentiras fáceis e historinhas de fim de mundo. Polidamente, a católica se posicionou contra a medida, embora reiterasse a sua proibição à prática homossexual.
Pode ser duro dizer, mas me parece muito claro que esta miséria espiritual anda em paralelo com a miséria social de nosso planeta.
Tenho a íntima convicção de que apenas um pouco de bom senso e de respeito ao próximo são suficientes para uma pessoa considerar hedionda a idéia de pena de morte para as bibas. Uma dose homeopática de esclarecimento é o bastante para darmos uma boa gargalhada diante de tamanha patetice. Não fosse o assunto tão sério. O filme era real.
Pais de homossexuais seriam presos se não revelassem a veadagem dos filhos. O projeto de lei ganhou corpo após a visita de uns padres estadunidenses, que inventaram um novo “tratamento eficaz” para “curar” as monas.
Fico imaginando quais argumentos eu deveria apresentar aos homofóbicos, ou àqueles que desconsideram a natureza gay do ser humano. Sinceramente, nada a declarar. É tão demasiadamente óbvia a marca da veadagem nesta humanidade que só um cego irrecuperável é incapaz de enxergar.
Essa cegueira quer se fazer visível, contra tudo aquilo que ousa colocar em xeque a sua escuridão. Há uma evidente reação conservadora aos movimentos de emancipação humana.
A cena mais chocante ainda estava por vir: blogueiros evangélicos brasileiros parabenizam a iniciativa do governo de Uganda. Quanta miséria, minha gente! De tão odioso, gera ódio. “Odioso”, aliás, foi o termo usado por Barack Obama ao se referir ao tal projeto.
Não é novidade que a homofobia explícita está na boca de muitos pastores e padres brasileiros. Agora, quem defende a pena de morte por lá não seria contra à pena de morte aqui. Isso assusta e enoja. O Brasil mostra a sua cara, mais uma vez, e agora talvez de forma mais explícita. Embora a defesa dos homossexuais ugandenses tenha sido amplamente abordada em dezenas de blogs, houve por parte da imprensa tupiniquim um rigoroso silêncio.

Nossa nação guarda ainda os profundos preconceitos que fundaram a atual civilização. Uma ampla liberdade sexual é constantemente reprimida pois coloca em cheque os padrões e a moralidade estúpida que regem o atual comportamento social e, por conseguinte, econômico e político. Uma moralidade falida, acabada, dissecada, morta às pulsações sensuais do corpo.
Mais uma batida no google e o cenário podre estava enfim montado: meia dúzia de países africanos já têm pena de morte para gays. Em muitos outros a idéia ganha força, a partir dos acontecimentos de Uganda. Entre a América Central, norte da América do Sul, África, Ásia e pedaços da Oceania, mais de 30 países possuem leis “anti-homossexuais”.
Uganda não um ponto isolado no mapa. Há no planeta uma horda imensa de pessoas vítimas de suas tradições culturais, infelizes e de vocação homicida. Por outro lado, há também uma parcela da população sedenta por justiça. Podem ser minoria, mas têm a seu favor a coragem, que alimenta os espíritos em busca da verdade e de um amor pautado em valores universais. São os denunciantes das barbáries e já meio impacientes com o atual estado de coisas.
A própria Terra demonstra uma certa impaciência. O caldeirão ferve. A história do homem é um piscar de olhos para o universo. Não adianta impor o nosso ritmo, a nossa temporalidade industrial no tempo da natureza, que cada vez mais exige o seu equilíbrio, quer o homem faça parte dele ou não. Podemos ser soberanos da natureza, mas somente segundo as suas leis e, entre elas, está a lei da veadagem, uma constante cosmológica, uma ordem do infinito que se manifesta nas abundâncias e reentrâncias da vida, em suas amplas formas e sentidos. Negar isso é negar-se a si mesmo.

Em vários sentidos, do científico ao religioso, estamos em constante unidade com os demais seres, animais, vegetais ou minerais. O meio ambiente somos nós, é uma extensão do que nós somos, e também o nosso reflexo. Com que palavras deverei expressar a clareza das águas: os terremotos no Chile, a pena de morte em Uganda e o aquecimento global são resultados diretos do conjunto de cada um de nossos pensamentos e atitudes. Exteriorizamos nossas guerras interiores. Botamos pra fora o nosso medo do outro, e assassinamos quem não conhecemos.
Os profetas do apocalipse levantam de sua tumba para questionar a Deus: meu Deus, até quando? Que espetáculo tórrido, Senhor! Em teu nome assassinam os seus eleitos. Quantos milênios atravessaremos atrás de uma migalha de sabedoria? Como falar aos corações que batem por detrás dos preconceitos e máscaras sociais? Como transcender todas as mentiras pregadas na história? Como sermos maiores do que nós mesmos? Nessa batalha, quais são as suas armas, Senhor?







Quem responde é Ogum. O deus africano da guerra nos dá a armadura certeira, nas palavras do poeta Waldo Motta: “tudo o que um guerreiro precisa / quando vai à luta é depor / armas e flores aos pés dos inimigos / cair matando de amores / por todos os filhos da puta”.
Quem ainda não assinou a petição contra a medida, por favor, faça-o imediatamente clicando AQUI.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Desnudo Deus

Excita-me o verbo, ó Deus de todos os nomes!
Sujeita-me a ser Jesus? Sujemos a cruz
apregoada nos martelos da mentira,
levantemos a cabeça do cristo baixo.

Assassinemos o deus morto, cultuado
nos rituais opacos de uma fé mesquinha.
Desapareçam tais igrejas de concreto:
meu corpo é vértebra de carne, osso e sangue,

onde o sopro é vivo, o esconderijo do Altíssimo.
Deus de todos os sem nomes, arriba, avante!
Venha a nós a tua terra, meu corpo é o reino,

banhado em miséria de tantos excrementos.
És Jeová, Maomé, Shiva, Buda ou Exu?
Dispa-se de todos os nomes, ó Deus nu.